Comunhão com Deus-Textos-1-A razão

A batalha com o próximo

Para poder gerar vitórias, a razão humana explora os outros seres humanizados com os quais você convive. Ela usa os demais seres como instrumentos para poder obter a vitória e hipocritamente afirma que está fazendo aquilo por amor ao próximo. Para que existisse amor ao próximo era preciso que houvesse uma entrega a ele. Seria preciso que a razão humana desistisse de ter razão e comungasse com as verdades e objetivos do outro. Só que ela não faz isso. Ao contrário, expressa o seu amor através do ato de ensinar aos demais seres humanizados o que ela acha certo. Ou seja, tenta dominá-los e quando consegue isso, ela lhe dá a sensação de vitória.

É preciso que você entenda que a sua razão humana nunca tem pena e nem está preocupada com os outros. Esta preocupação não existe nela. Mesmo nos casos onde o ser humanizado acredita que exista um amor profundo, como entre mãe e filho, o que há sempre é uma razão explorando outra para submetê-la aos seus ditames e com isso poder dar a sensação de vitória, que vocês confundem com a ideia de estar amando.

A razão do filho explora os códigos da maternidade para poder ganhar alguma coisa da mãe; a razão desta explora os códigos de filiação do sistema humano de vida para também poder obter vitórias. Isso vale para todos os relacionamentos do mundo humano: amigos, parentes, conhecidos, amigos de trabalho. Sempre uma razão está explorando um código humano que regula aquela relação para poder obter uma vitória pessoal.

 É por isso que as relações humanas são tão conturbadas. Dificilmente se encontra dois seres humanizados que realmente conseguem conviver em paz absoluta. Isso porque o que marca o relacionamento deles é a característica soberba que está presente na razão e que os leva a vivenciar cada relacionamento como uma batalha onde uma vitória precisa ser conseguida. Por mais que os seres humanizados acreditem que estão relacionando-se com outros de uma forma pura, sincera, a presença desta característica que o Espírito da Verdade cita não deixa isso acontecer. Por trás dos maiores amores que a razão afirma existir, a característica soberba da razão não deixa que o relacionamento entre estes seres seja puro e desinteressado.

Uma mãe – e cito muito a mãe porque, segundo vocês, é este ser humanizado que consegue nutrir o amor mais puro que existe – que se diz preocupada com a saúde e o futuro do filho não está realmente preocupada com isso. O que ela está preocupada é em não ser derrotada, o que aconteceria se o filho morresse ou não conseguisse alcançar um futuro reconhecido como bom pelos seres humanizados.

Sei que vocês não estão acreditando muito no que estou dizendo. Guiados por suas razões estão dizendo que isso pode acontecer com outro, mas não com vocês. Mas, lhes faço a mesma pergunta que Cristo fez e que já citamos: vocês teriam coragem de se ver por dentro? O que estou fazendo é desmascarando o interior de vocês, as suas razões. O que estou fazendo é retirando a hipocrisia que a sua razão usa para esconder a soberba que está presente nos pensamentos para que possa aproveitar esta provação e promover a reforma íntima e assim entrar em comunhão com Deus.

Este pretenso amor que os humanos acham que nutrem pelos seus descendentes e que consideram a coisa mais importante, mais pura que podem sentir sempre foi considerado como um entrave à elevação espiritual. Krishna fala da necessidade do desapego destas sensações e até conta no Bhagavata Puranas a história de dois passarinhos que se perderam justamente por conta deste amor. Cristo foi mais longe ainda:

“Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não serve para ser meu seguidor. Quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não serve para ser meu seguidor. Só pode ser meu seguidor quem pega sua cruz e me segue”. (Mateus, 10, 37 e 38)

No próprio O Livro dos Espíritos encontramos informações deste tipo. Quando perguntado se os seres que deixam este mundo se preocupam com o destino daqueles que ficam, o Espírito da Verdade responde que sim, mas que esta preocupação varia de acordo com o grau de elevação de cada ser: quanto menos elevado, mais se preocupa.

Porque todos os mestres incitaram o desapego aos laços familiares, ao chamado amor puro? Porque eles sabem que esta sensação é criada por uma razão que possui como característica a soberba e que por isso a utiliza para encobrir a busca da vitória que leva o ser a se afastar de Deus. Eles foram contrários à vivência da hipocrisia de dizer que ama porque sabiam que a razão humana sempre utiliza deste artifício para dar a provação do amor ao próximo.

Se você não entende que o que está vivendo é soberba e não amor, não luta contra a razão. Se não faz isso, é guiado por ela e jamais consegue entrar em comunhão com Deus.