Revelações da revelação - Livro II

Separação da alma e do corpo

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Pergunta 154
Pergunta 155
Pergunta 155a
Pergunta 156
Pergunta 157
Encerramento de conversa
Pergunta 158
Pergunta 159
Pergunta 160
Pergunta 161
Pergunta 162

154. É dolorosa a separação da alma e do corpo? Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.

Participante: Ele não vê chegar o termo do seu exílio porque não têm essa consciência?

O espírito aí está com “e” maiúsculo, não está?

Participante: Está.

O termo espírito quando apresentado com “e” maiúsculo nesse livro quer dizer o ser com consciência espiritual. Trata-se, portanto do espírito já livre da matéria.

É o espírito que já alcançou a elevação, que já fez a reforma. O outro, aquele que ainda está preso à prova e expiações, é chamado aqui de alma.

Participante: Já fez a reforma ou já tinha encarnado?

Aquele que fez a reforma numa encarnação.

Para este, segundo o que afirma o Espírito da Verdade não há dor no momento da morte.

Participante: O senhor está falando o espírito desumanizado?

Sim, estou falando do espírito desumanizado, daquele que vive na vida carnal com a consciência espiritual. Para este não há dor.

A partir desta informação, temos, então, a comprovação de algo que já dissemos: a dor não nasce no corpo, mas sim no espírito. Por isso esta resposta: o espírito que já tem a consciência espiritual, ou seja, goza da sua libertação da carne, não sente dor.

É isso que Krishna quer dizer com quando fala com Arjuna e diz que nada pode cortá-lo ou queimá-lo. Sim, nada disso pode acontecer ao espírito quando de posse de sua consciência espiritual, pois se não está mais preso às percepções do corpo, estas não podem gerar a sensação dor.

Então veja: aquele que está liberto, ou seja, tem a consciência espiritual, não sofre. Já aquele que não está liberto, aquele que acha que é o corpo, sofre na hora do desencarne. Sofre o medo de morrer, o medo do desconhecido, o medo pelo que possa suceder a ele, as dores físicas que ele mesmo criou.

Posso dizer que neste aspecto, como em todos os outros, tudo depende do grau de evolução de cada espírito. Quanto mais humanizado, ou seja, quanto mais se achar sendo o corpo que veste, mais dolorosa será a partida, será o desenlace, o desencarne.

Mas, sentir ou não dor no desencarne não é certo ou errado, pois faz parte da encarnação, ou seja, das provas, expiações e missões dos espíritos. Muitos que ainda não se libertaram da matéria podem, por programação da encarnação, serem, vamos dizer assim, desacordados momentos antes da morte para não sentir a dor.

   

155 - Como se opera a separação da alma e do corpo? Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.

Ora, se o Espírito da Verdade fala ‘rotos os laços que a retinham’, isso quer dizer que existem laços que prendem o espírito ao corpo e a separação se dá quando estes são desligados. Isso vem de acordo com que dissemos: o espírito precisa ser desligado do corpo.

Os laços precisam ser cortados. Se não forem, o espírito fica aprisionado ao corpo.

Agora, um detalhe: esse laço não pode ser rompido pelo próprio espírito; é preciso que haja ajuda externa para que isto aconteça. Nenhum espírito pode desligar-se do corpo por que quer, na hora que quiser; precisa ser desligado por auxiliares espirituais.

Os mais curiosos me perguntariam: quanto tempo dura esse desligamento? Não há regra fixa. Como já disse, no mundo espiritual dois mais dois dificilmente dá quatro.

Apenas para não deixar esta questão no ar, diria que o tempo que os espíritas afirmam ser necessário (três dias) é um tempo considerado normal para que os laços sejam rompidos.

Outro detalhe: este tempo pode começar a ser contado antes da morte. Ou seja, o espírito pode começar ser desligado um ou dois dias antes do desencarne.

Participante: Então procede os espíritas pedirem aos que querem ser cremados para esperar? Este tempo seria para o desligamento?

É caso a caso: não se pode generalizar nada quando se fala de mundo espiritual.

Não se deve criar uma lei dizendo que para haver a cremação é necessário aguardar algum tempo ou se estabelecer qualquer período para isso. Para se saber se sim ou se não, teríamos que conhecer o caso, pois é caso a caso e não algo genérico.

Mas, isso é algo com que vocês não devem se preocupar. Por quê? Porque, se por carma um espírito precisar estar ligado ao corpo na hora que ele for ser queimado, estará ligado ao corpo. Não importa se houve ou não espera ou de quanto tempo.

Participante: Mas, quando a gente morre não fica adormecido ao mesmo tempo em que o corpo está sendo cremado?

A mesma resposta que foi dada à questão do tempo: não é regra.

Por carma alguns podem ficar por perto e sentir tudo. Por carma podem ficar por perto e não sentir nada. Por carma podem ser desligados e nem ver a cremação. Cada caso é um caso.

Guardem isso: cada um tem um carma e cada carma tem a sua história própria. Por isso afirmo que qualquer acontecimento da existência encarnada de um ser depende do seu carma e por isso não podem ser criadas leis que definam um acontecimento de forma genérica.

Não queiram generalizar nada. O que serve para um, não serve para outro, pois não há dois espíritos que possuam o mesmo carma. Estou apenas falando que em via de regra isso acontece, mas não há regras fixas pré-estabelecidas sobre nada.

Por isso esta questão de tempo não tem importância. O importante desta resposta que estamos estudando é saber que a sua situação, a sua separação do corpo, será mais dolorosa se estiver preso ao materialismo, se estiver preso ao mundo material. Isso é perfeito, vale sempre: quanto mais ligado estiver ao mundo material, mais dolorosa será a sua partida.

Com isso não estou querendo dizer que o seu desencarne se dará através de uma doença dolorosa. Você pode morrer de unha encravada, mas terá mais dor do que alguém que, tendo a consciência espiritual, morra de câncer ou de qualquer doença degenerativa.

155a. A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte? Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam não se quebram.

É importante entendermos isso. Vamos falar de uma coisa ainda acima do que simplesmente sair do corpo.

Você perderá a consciência da identidade atual paulatinamente. Não é porque morreu que irá virar espírito, como vocês acreditam. Não é isso.

A pergunta de Kardec é a seguinte: o espírito toma consciência de sua real identidade no exato momento que acabou a vida carnal? Não, é a resposta.

Só que o Espírito da verdade continua. Ele fala dos laços que prendem o espírito. Diz que o espírito se desprende deste laço aos poucos.

Desprende-se do que? Com certeza não é do corpo físico. Como já vimos em outras perguntas, quando o autor espiritual deste livro quer ser bem claro ele é, mas neste caso ele não fala em corpo. Quem faz isso é Kardec.

O Espírito da Verdade fala em dois estados e não em dois corpos. Estes estados são vivo e morto. Portanto, ele não está falando em corpos.

É preciso compreender que não é porque Kardec falou em corpos que o Espírito da Verdade também está falando a mesma coisa. Ele não é claro, não fala diretamente, por isso não se pode afirmar que esteja falando sobre isso na sua resposta. Na verdade são vocês humanos que deduzem que ele está falando de corpo, porque na pergunta havia esta palavra.

O espírito da verdade é muito sutil, mas ele fala em estados do espírito: o estado humano e o espiritual. Com isso o entendimento desta resposta muda: você se depreende gradualmente do estado humano e, paulatinamente, vai alcançando o estado espiritual.

É aquilo que já dissemos: A encarnação não acaba com o desligamento do corpo, porque logo depois deste acontecimento, você entra num processo de retorno gradual a consciência espiritual.

Quem sai da carne imaginando-se o personagem humano só gradualmente volta a consciência espiritual. Só depois do completo desligamento desta consciência humana o espírito volta à sua consciência espiritual.

Por isso é que existem os fantasmas, passeando nos navios, nos aviões. Eles ainda não se desligaram totalmente da consciência humana e, por isso, ainda querem praticar atos humanos.

Participante: Como vamos saber se estamos encarnados ou não?

Só a respiração é diferente.

O espírito fora da carne não respira. Ele pode ter a ilusão que está respirando, mas não respira.

Participante: Nós podemos criar depois de mortos a ilusão que estamos respirando e assim não saberíamos que estamos mortos?

Sinta o ar entrar. Esta percepção o espírito não pode plasmar.

156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica? Na agonia, a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.

Participante: Existe o quê?

O corpo existe. A vida orgânica existe.

Então, veja: o corpo pode existir sem o espírito. Isso já respondemos em uma outra pergunta lá atrás. Mas, agora, fica bem claro: o espírito pode ser retirado antes do corpo parar de funcionar. Nesse caso, todo o funcionamento do corpo é assumido por espíritos fora da carne.

Vamos dizer assim: você já vai tendo desligado alguns órgãos do corpo físico aos poucos. O estômago já não funciona mais, os rins, o sistema digestivo, etc. Os órgãos que continuam funcionando vão sendo administrados por espíritos fora do corpo que lançarão fluido universal para fazê-los funcionar.

Mas, tudo isso só pode acontecer por carma, por merecimento.

157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar? Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.

 

Participante: Como é este esforço na prática?

É negar tudo o que você acha, tudo o que sabe, tudo que quer, tudo que deseja.

Vamos ao comentário da resposta. Para começar, existe algo na resposta que devemos que devemos prestar muita atenção.

O Espírito da Verdade começa dizendo assim: muitas vezes. Isso quer dizer que o que ele está falando não é regra, mas que pode acontecer diversas vezes.

Continuemos na análise da resposta.

Ele diz: muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Ou seja, alguns por carma, por merecimento, têm a percepção de que estão se desligando da matéria; outros não. O mentor do espiritismo não está se referindo a todos.

Alguns, por merecimento, por terem alcançado uma evolução espiritual, compreendem o desligamento do corpo e lutam para acabar com o restinho do personagem que sobrou dentro dele. Mas, a maioria não faz isso. A maioria não tem a menor consciência de que está morrendo, de que está passando de uma etapa da existência para outra.

Muitos leem o texto desta resposta e não se dão conta da presença da palavra ‘muitas vezes’ e acabam achando que a resposta do Espírito da Verdade é uma regra. Imaginam que todo espírito quando desencarna antevê a existência espiritual. Não são todos, mas apenas alguns.

Alguns anteveem, não todos. O que preside este conhecimento é o merecimento de cada um. Alguns têm o merecimento de entender o processo pelo qual ele estão passando. É por isso que o Krishna diz: aquele que se guia pela yoga, mesmo que seja no último momento, alcança.

Participante: Ele antevê a sua entrada no mundo espiritual?

Isso, ele antevê este novo mundo, essa nova vida, essa nova forma de existência. Aí ele diz para si mesmo: ‘é agora, chegou a hora, vou colocar em prática tudo correndo’.

Mas, para que um ser tenha essa consciência, é preciso ter gerado esse carma durante a encarnação. Se não tiver gerado, não terá a mínima consciência de que está passando do estado encarnado para o estado desencarnado.

Participante: Existe uma crença que se chama a melhora da morte. O paciente está no hospital, por exemplo, ruim e têm uma melhora surpreendente e depois morre. Isso realmente já aconteceu várias vezes.

Pode ser essa lucidez do mundo melhor que irá viver e com isso começa a se apagar a dor. Pode ser, mas também pode ser muitas outras coisas.

Pode ser uma nova ilusão para aquele que estão apegados a carne, com a finalidade de verificar se ele vai naquele curto espaço mudar a sua forma de viver ou se vai continuar preso à que estava. Vamos dizer assim: uma pessoa muito rabugenta tem essa última chance de se libertar da rabugice e aí não se liberta.

Isso são detalhes de desencarnes. O que precisamos compreender realmente é muito mais do que detalhes. É saber que existem tratamentos diferenciados para o processo morte, de acordo com o merecimento de cada um.

O que importa realmente é não criar regras, mas saber que o momento do seu desencarne será ditado como merecimento da sua existência carnal. Ou seja, ele depende da sua maneira de viver: se vive preso ao materialismo, vai ter um determinado padrão no desencarne; estando liberto, vai ter outro.

Portanto, mais importante do que querer saber o que acontece no desencarne é compreendermos que não há morte e que devemos nos preparar a vida inteira para morrer. Isso pode lhe garantir o desencarne sem traumas.

Aliás, só isso pode lhe garantir um desencarne sem traumas. Enquanto você viver o mundo material de forma diferente do espiritual aguardando chegar a morte para colocar em prática os ensinamentos dos mestres, certamente terá trauma no seu desencarne.

Este trauma é inevitável porque neste caso estará saindo de um lugar e irá para outro, de uma condição e para outra. O choque entre culturas e objetivos de existência é grande e isso causa traumas.

Por isso Cristo nos ensina na primeira logia do Evangelho Tomé: aquele que descobrir o segredo dessas palavras não encontrará a morte. Fomos bem claro quando comentamos este ensinamento: é preciso se compreender que não há morte, mas para alcançar esta compreensão é preciso se entender que não há vida humana independente da espiritual.

Viver a vida humana como independente da espiritual leva à morte, ou seja, a traumas no desencarne. Viver a vida material como extensão da existência espiritual e, portanto, com os mesmos valores, não leva a morte.

Por isso sempre digo: é preciso destruir a separação entre espiritual e material. Compreender o mundo inteiro, a existência como uma coisa só. É preciso viver tanto a encarnação quanto a vida desencarnada num só sentido, de uma só forma, numa só intenção. Quando o espírito alcança isso acaba com a morte. Neste momento, não haverá processos de mudança e com isso não haverá traumas.

Mas, se o espírito viver a vida material, por mais elevado que seja em conhecimentos espirituais, sem os objetivos espirituais, estará criando para si um trauma no momento do desencarne. Isso porque separou a vida espiritual da material.

Isso que é importante compreender. Sem este entendimento os espíritos encarnados ainda ficam presos no querer entender a morte, saber como ela ocorre. Só que a morte não se entende; ninguém conhece com antecedência o seu desencarne individual.

Sabe por que nenhum ser humano entende a morte? Porque a morte é individual. Cada um morre diferente do outro. O processo morte para aqueles que estão presos à matéria faz parte do carma e o carma é individual.

É por isso que até hoje ninguém pode dizer: morrer é isso ou aquilo. A morte é um carma e não um processo genérico para todos os espíritos. Cada um morre de um jeito diferente. É por isso que ninguém consegue descrever a morte.

Muito mais importante do que se preparar para a morte é destruí-la, destruir o processo de distinção entre vidas. Se você tiver um processo morte, ou seja, se acreditar que há outra vida independente desta, certamente viverá um processo morte e com isso sofrerá um trauma, que não será igual ao de nenhum outro espírito, pois a morte é carma individual.

Para acabar com esse processo morte você precisa morrer em vida, destruir a vida. Ou seja, precisa viver a vida material como se espiritual fosse, porque ela já é. Precisa mover-se pelos mesmos modos e objetivos do mundo que você chama fora da carne.

É preciso a vida de uma forma diferente, viver de outro jeito: é isso que quer dizer quem descobriu o segredo dessas palavras não encontrará a morte, que Cristo falou no Evangelho de Tomé. Ou seja, quem descobrir o segredo dessas palavras encontrará uma nova forma de viver que não lhe levará a um processo de morte.

Ficou claro isso? Quando destruímos o mundo material e o espiritual e vivemos as existências de forma única, acaba a morte. Porque, como foi dito, o espírito já vai estar consciente do que está acontecendo.

Portanto, não adianta se ensinar a morrer: é preciso ensinar a viver. É por isso que nós dizemos assim: o Espiritualismo Ecumênico Universal é uma doutrina de vida. Seus ensinamentos precisam ser postos em prática nesta existência.

Apesar disso, tem gente me ouvindo e guardando para colocar em prática o que digo depois de morrer. O problema é que este não vai saber nem que morreu. Como é que vai saber à hora de colocar em prática?

158. O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência? Uma ideia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra, como frequentemente vos sucede.

   

A resposta do Espírito da Verdade fala em ideia acanhada porque Kardec está querendo comparar a lagarta se fechar com a morte física, mas não existe morte neste momento. Ou seja, não existe a necessidade de morte física para um renascimento.

Seria melhor dizer: o espírito se enclausura na vida terrestre para sair dela como um ser mais elevado. Enclausurar é uma coisa; morrer é outra.

Kardec fala especificamente em morte física, pois fala em túmulo.

A clausura não é o túmulo, mas a própria condição humana. O espírito, que é a lagarta da história, se enclausura na personalidade humana e precisa se libertar desta para ganhar asas e evoluir na sua condição espiritual.

159. Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no mundo dos Espíritos? Depende. Se praticasse o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.

Como já afirmamos que não existe o processo morte, temos que entender que agora estamos falando da percepção de estar em outro mundo e não no momento da morte. O que vamos falar é sobre o momento em que o espírito percebe estar de volta à sua consciência e não em morte física.

Quando durante a encarnação o espírito está em paz consigo mesmo e reconhece que é um ser universal apesar de estar encarnado, vivendo uma vida material, ele, ao perceber que está de volta à sua consciência espiritual, fica feliz. Ele está livre das amarras (verdades, paixões, desejos) materiais e diz a si mesmo: acabou, passou aquilo tudo, graças a Deus.

É o mesmo processo que acontece quando vocês humanos têm um problema muito grande para ser resolvido e conseguem resolvê-lo. Neste momento dizem a si mesmo: ‘ufa, libertei-me daquilo’. É assim.

Agora aquele que tem certeza que não realizou seu trabalho – é o que fala o Espírito da Verdade quando diz fazer o mal pelo desejo do mal – quando alcança a consciência espiritual diz: ‘meu Deus, eu joguei fora uma oportunidade’. É isso que a resposta a esta questão quer dizer.

 Agora, só um detalhe. Quem não se preparou para a continuidade da existência universal, quando retorna à sua consciência espiritual, não vai parar para ficar se culpando. O espírito não se culpa: reconhece o que fez e segue em frente. Ele diz para si mesmo: vou começar tudo de novo; vou tentar outra vez. Aí ele começa a se preparar para uma nova encarnação.

Portanto, vamos buscar transformar a nossa vida material para que ela seja constituída dos mesmos valores da existência espiritual para quando sair da carne poder dizer: graças a Deus, louvado seja o Pai.

160. O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele? Sim, conforme a afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam.

 

Se você tem uma relação afetuosa com o seu pai no sentido de posse (‘meu pai’), quando sair da carne buscará encontrá-lo. Não tendo essa relação de posse, ou seja, se sabe que aquele espírito que representou o papel de pai não é isso, mas um irmão, não o buscará.

Saiba de uma coisa: as posses que você tem na Terra serão levadas para o mundo espiritual. Por isso, depois da saída da carne vai buscar os objetos da sua posse.

Portanto, se você quer evitar uma relação obsessiva depois do desencarne, é preciso acabar desde já com as paixões. Se você é obcecado pelo seu pai vai querer procurá-lo; sendo obcecado pelo seu filho, vai querer procurá-lo.

Sei que há muitos que imaginam que essa busca é saudável, que é divina, mas, como veremos mais tarde neste mesmo estudo, essas relações são obsessões.

Participante: Aqui está sendo falado de um encontro real e não de uma simples imaginação.

Também estou falando de encontro real.

Mas, para mim, o mais importante não é o encontrar, mas sim que esse encontro só acontece porque há uma busca. Ou seja, você acorda do outro lado e diz: ‘morri; cadê meu pai, que já tinha morrido, cadê minha mãe’?

O importante por agora é compreendermos que existe uma busca com a intenção de encontrar.

 Participante: Tem gente que encontra.

Sim, tem gente que encontra de acordo com a sua afeição, como diz o Espírito da Verdade.

Tendo obsessão pela sua mãe que já morreu, quando sair da carne vai procurá-la e poderá até encontrá-la. Mas, se você não tem essa obsessão, não vai buscá-la porque não precisa a encontrar.

Participante: Mas para se encontrar essa afeição tem que ser recíproca?

Muitas vezes o outro já saiu antes da carne mais elevado e não precisa deste reencontro para ser feliz, mas atende ao chamado por compaixão. Ele vem pela afeição entre espíritos e não pela busca do filho, por exemplo.

Aquele espírito que viveu o papel de mãe não está buscando o filho, apesar de quem viveu o papel de filho estar buscando a mãe.

Participante: O espírito que vem pode até não ter vivido o papel de mãe, não é mesmo?

Sim, pode até nem ter vivido este papel.

Como já dissemos, a identidade material não tem nada a ver com a identidade espiritual. Outros espíritos podem assumir uma identidade material de outros espíritos.

O que precisa ficar claro nesta resposta é: você se relaciona com as pessoas de acordo com a afeição que tem por ela. Tendo uma afeição obsessiva, buscará sempre esta pessoa, esteja onde estiver; não tendo, não precisa buscá-la sempre.

Apenas um detalhe que estamos nos esquecendo: o encontrar depende do carma. Nada pode independer do carma. Portanto, procurar é uma coisa; encontrar ou não é uma questão de merecimento.

Vamos continuar estudando a resposta.

Muitas vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os encarnados e os vai visitar.

Foi o que falamos: todo relacionamento permanece depois do desencarne. Tudo que você sentir pelo próximo durante a vida material permanecerá depois do desencarne...

161. Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda se não enfraqueceram em consequência da idade ou das moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultaneamente? Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.

Prestem atenção. Mais uma vez o Espírito da Verdade começa a resposta da seguinte forma: geralmente é assim.

Você nunca vai ver o Espírito da Verdade dizendo: dois mais dois é igual a quatro. A única exceção é na resposta à pergunta um: Deus é a causa primária de todas as coisas.

Portanto, volto a repetir: ao invés de nos preocuparmos como é a morte, temos que nos preparar para a melhor morte possível. Esta acontece quando saímos da carne com a consciência espiritual.

Ao invés de buscarmos criar normas para a morte, devemos parar de querer saber como ela é. Sobre este assunto, basta apenas entendermos que a morte vai ser de acordo com aquilo que merecermos ter. Só com esta conscientização podemos olvidar esforços para tentar merecer uma morte melhor.

162. Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a consciência de si mesmo? Não raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício

Apenas um comentário à esta resposta; esqueçam os muitas vezes, poucas vezes, etc. Vamos evitar criar regras para nós.

O que acontece logo depois do desencarne já conversamos. Por isso, não adianta ficar discutindo caso a caso para querer saber se a morte desta ou de outra forma é diferente ou não.

Isso é besteira, perda de tempo.