Reforma íntima - Textos - Volume 11

Nem contra nem a favor, muito pelo contrário

Se analisarmos as mensagens que temos enviado de uma forma humana (através da lógica racional dualista do ego) poderemos chegar à conclusão que somos contra tudo o que existe. Mas, isso também é uma ilusão, pois não somos nem a favor nem contra tudo o que existe: muito pelo contrário. E, tal atitude fundamenta-se em dois aspectos Reais do Universo.

O primeiro deles é o UNIVERSALISMO. Se buscarmos no dicionário a compreensão desse termo se encontra a seguinte definição: ‘Doutrina que considera a realidade como um todo único’. Ou seja, que tudo que existe faz parte de um Todo. Sendo assim, não podemos ser contra nem a favor de algo, pois seria o mesmo que negar a existência de alguma coisa que existe.

Tudo que existe possui a característica de ser universalista, ou seja, de estar na presente na Realidade, no Todo. A compreensão que se tem sobre as coisas pode ser ilusória, mas negar a existência de qualquer coisa feriria o princípio universalista de tudo.

Isso porque a própria ilusão é ‘real’ para quem convive com ela como tal e, por isso, não pode ser negada. Ou seja, as ilusões que se tem sobre as ‘coisas’ do Universo são reais. Vamos explicar melhor e para tanto usaremos um exemplo dos muitos que já foram citados durante a transmissão de ensinamentos.

Falamos que o patriotismo é uma ilusão. Acreditar que se nasceu em um determinado planeta já é uma ilusão, pois o Universo não é fragmentado em espaços, mas uno. Que dirá então separá-lo em nações, raças ou povos. Aliás, pensar em algo cerceado pelo binômio espaço/tempo é separar o que é Uno e Indivisível.

No entanto, afirmar que a pátria ou o sentimento que um ser usa para relacionar-se com ela é ‘verdadeiro’ ou ‘falso’, seria negar o universalismo. Isso porque o patriotismo é real, ou seja, existe para aqueles que ainda estão presos ao espaço/tempo.

Para compreendermos melhor tal afirmação, vamos colocar a forma de relacionamento de um ser humanizado com sua ‘pátria’ em uma linha horizontal. Em um extremo teremos o patriotismo e no outro, o ‘não patriotismo’ ou a ausência de adoração à pátria, povo ou raça.

Esta linha não é composta apenas de extremos, ou seja, não existem apenas o patriotismo e o não patriotismo. Na verdade ela se trata de uma extensão que é delimitada nos seus extremos por estes dois tipos de relacionamentos. Se assim o é, podemos afirmar que esta linha possui um ponto mediano, o meio absoluto.

Para os seres humanizados neste meio não existiria nada, ou seja, seria um ponto onde o patriotismo e o não patriotismo acabariam. Mas, isso não é Real. O espírito ligado ao ego dual precisa compreender que o ‘nada’ não existe, pois mesmo que atribuíssemos a ele o valor de ausência de tudo, ele ainda seria alguma coisa: a ausência.

Sendo assim no meio da nossa imaginária linha teria que existir alguma coisa. Porém, este algo que existe ali não poderia sujeitar-se a um nem a outro extremo porque senão ele seria apenas uma das partes daquele extremo.

Imagine que no meio, no ponto central, existisse o patriotismo sobrepujando o outro extremo, mesmo que em grau ínfimo. Se assim fosse, este ponto não mais seria o meio absoluto, mas um elemento daquele extremo. Por isso afirmo: no meio existe algo, ou melhor, existem os dois extremos.

Voltando no nosso exemplo, na linha imaginária que analisa o relacionamento do ser humanizado com a sua ilusória ‘pátria’ existe alguma coisa para que ele não seja composto por algo inexistente (o nada). E, este algo que existe é formado tanto por um como pelo outro extremo, ou seja, no meio coexistem o patriotismo e o não patriotismo.

Aliás, em todos os pontos da nossa imaginária linha existe resquícios dos dois extremos. Não importa o quanto estejamos próximos do patriotismo ou do não patriotismo, sempre haverá a presença do seu oposto. Isso porque, como ensinou Krishna, o Real nunca deixa de existir e o irreal nunca existiu.

No entanto, no ponto central absoluto existe uma característica específica que o distingue dos outros pontos: um extremo não sobrepõe o outro. O meio absoluto de nossa imaginária linha não é vazio (composto pelo nada) nem tende para um ou outro lado, mas é uma etapa da linha onde os dois extremos se encontram em intensidades tão iguais que um anula a ação do outro.

Aparentemente este meio absoluto está vazio, mas na Realidade ele está ‘cheio’ com a presença dos dois extremos, mas em uma situação especial (igualdade) que faz com que os efeitos de um ou de outro existam. Portanto, o patriotismo e o não patriotismo são Reais, pois eles existem sempre, mesmo no meio absoluto.

Se assim o é, não podemos ser contra ou a favor, mas muito pelo contrário. Se fôssemos contra ou a favor de algum dos extremos estaríamos negando a Realidade, pois estaríamos fracionando o que é Indivisível; negando a própria divindade, que é a Realidade, pois seríamos contrários a algo que faz parte do Universo.

Na verdade, quando repassamos ensinamentos que afirmam que você não pode ter patriotismo, ou seja, não deve optar por um dos extremos das linhas de relacionamentos com as ‘coisas do mundo’ (pessoas, objetos e acontecimentos), estamos justamente mostrando que existe um outro lado que também é Real.

Quem se apega ao patriotismo, ou seja, acredita na ilusória sensação de amar sua pátria acima das outras criadas pelo ego, nega a existência do não patriotismo. Com isso ele deixa de aplicar e viver com o Universalismo.

Não pregamos a ausência de nada do que é Real, mas o caminhar pelo meio, ou seja, a consciência de que existem dois lados na moeda, mas que eles podem coabitar tão profundamente fundidos que um não provoque efeitos sobre o outro, assim como a ‘cara ou a coroa’ não interferem no outro lado. No entanto não é assim que os egos humanos vêem nosso ensinamento.

Isso porque eles estão presos ao dualismo, ou seja, funcionam apenas a partir do extremo. Quem nega o patriotismo tem, necessariamente, que pregar o não patriotismo: é desta forma que os seres humanizados entendem aquilo que lhes é transmitido. No entanto, nossa postura é diferente. Alertamos para os perigos de se acreditar no patriotismo, mas por isso não quer dizer que estamos fazendo propaganda do não patriotismo.

Aplique tal conceito a tudo que temos dito (a não ser homem ou mulher, a não ser marido ou esposa e por isso acreditar que pregamos o fim do casamento, etc.) e você verá o que é ser Universalista.

Universalista é aquele que sabe que tudo que existe é sempre Real. Por isso ele nunca opta por um por outro extremo nas suas linhas de relacionamento com as ‘coisas do mundo’. Ele está sempre no ‘caminho do meio’, ou seja, para ele os dois extremos são Reais (‘certos’, ‘verdadeiros’, ‘bonitos’, ‘limpos’) mas ele não deixa que o fato de acreditar na Realidade deste extremo influencie-o contra o outro.

Mas, no entanto, tem gente que não vive assim... Será que eles estão ‘errados’? Depois de tudo que falamos é claro que não... O que poderíamos dizer é que eles exerceram apenas a sua opção de deixar-se ou não se influenciar por um dos lados, mas nunca que estão ‘errados’. Ou seja, exerceram o ‘livre-arbítrio’ que Deus concedeu a todos os seres universais.

Aí está o segundo elemento que não deixa ser a favor ou contra qualquer coisa: o LIVRE ARBÍTRIO, o resultado de uma opção pessoal.

 Veja bem. Como dissemos, em todos os pontos da linha imaginária que criamos existe a presença dos dois extremos. Mesmo no ponto onde aparentemente exista a influência de apenas um dos elementos, o outro está presente. Não tem força para impor sua influência, mas ele está apresente, pelo menos como a negativa.

Quem é patriota nega, pelo menos para si, a existência do não patriotismo. Tal atitude que, aparentemente, poderia gerar a compreensão da não existência do outro extremo para aquele ser, é exatamente a que afirma a sua existência.

Quando alguém diz que para si não existe o não patriotismo está confirmando que acredita na possibilidade da existência do outro extremo, pois ele precisa ser negado. Ou seja, afirma que o não patriotismo é Real. Ele não nega que o outro seja Real, mas apenas afirma que, entre um ou outro extremo, ele opta por aquele determinado.

Ou seja, a livre opção por um dos extremos não torna ninguém falso ou verdadeiro, mas reflete- apenas numa decisão livre e soberana do ser utilizando-se de uma graça que o Supremo lhe concedeu e deu o direito de exercê-lo naquele momento.

Como, então, podemos dizer que alguém é ‘falso’ ou ‘verdadeiro’? Se somos Universalistas (acreditamos na existência Real dos extremos) e se respeitamos o Pai e o toda a sua obra, como, então, afirmar que alguém está ‘certo’ ou ‘errado’?

Por isso afirmamos no início: não somos contra ou a favor de quaisquer coisas; muito pelo contrário. Defendemos o direito de cada um optar pelo que quiser, mas temos, pela missão que assumimos junto ao Universo, o dever de alertar que acreditar que apenas um dos extremos é Real fragmenta a Unidade e consiste-se numa postura de soberba, pois nega ao próximo o direito dele exercer o seu livre arbítrio.

Por isso queremos deixar bem claro: não estamos aqui para criar novas verdades. Não estamos aqui para transformar em Real o que não é, pois nada mais pode ser conhecido pelos seres humanizados do que a gama de extremos que já o é.

Também não estamos aqui para julgar e condenar nenhum outro ser humanizado, ou seja, não estamos aqui para cercear o livre arbítrio de nenhum espírito. Nossa posição é indicar um caminho que ligue este ser à Realidade.

Mas, para isso, precisamos alertar que tudo é Real. E, para tanto, precisamos dizer que tudo que você considera como verdadeiro é apenas um dos lados da moeda. É isto que fazemos na transmissão de nossos ensinamentos.

Quando dizemos que você não pode se considerar marido ou esposa (estar casado), não estamos querendo afirmar que você não deve casar-se ou dizer que o casamento é irreal. Aliás o próprio apóstolo Paulo afirma: ‘É bom que o homem não case. Porém porque existe tanta imoralidade, cada homem deve ter a sua própria esposa e cada mulher, o seu próprio homem’ (Carta aos Coríntios 1 – capítulo 7, versículos 1-3). É nesta aparente ambigüidade do apóstolo que aprendeu com Cristo no mais alto céu que fundamentamos nossos ensinamentos.

O que estamos querendo afirmar realmente, mas que a maioria não vê desse jeito porque está aprisionada ao dualismo, é que você deve viver o que está vivendo (estar casado ou não), mas aprender a relacionar-se com o que este acontecimento sem se prender a nenhum dos dois extremos das linhas de relacionamento com as situações da vida. Quem não se apega em um deles não se deixa influenciar pela sua ação (quere casar ou não, querer separar-se ou não) e, com isso, alcança a equanimidade.

Aí está o principal perigo para quem não vive a Realidade pelo caminho do meio. Quem se apega em um dos extremos, ou seja, acredita em um e nega o outro, sofre com o ‘desequilíbrio sentimental’, a diferença de ânimos entre as situações da vida.

Por causa deste desequilíbrio acaba variando entre a exultação do prazer (quando o que quer acontece) ou a depressão da dor (acontece o que não quer). Tal vicissitude é fruto de estar em um dos extremos da linha de relacionamentos e não poderá deixar de ser colhido por aquele que ali está. E esta ‘variação de humor’ leva ao fim da Felicidade Plena, Universal (Bem-Aventurança), que é a graça de Deus e o que Ele tem prometido aos seus filhos.

Por isso não somos contra ou a favor: muito pelo contrário. Respeitamos o seu livre arbítrio e, por isso, nunca atacamos quem quer que seja. No entanto, não podemos deixar de alertar que apegar-se a um dos extremos leva o ser universal a afastar-se da glória de Deus.