Diário de bordo

Onde há fumaça, há fogo

Quando há fogo, sempre há algo queimando... Quando existe água, alguma coisa se molha... Quando há vento, as coisas balançam... Ou seja, sempre que houver uma causa há um efeito...

Esta é uma coisa interessante de se pensar para aquele que busca esvaziar a sua mente, alcançar a felicidade plena. Isso porque nos atentamos em estancar os efeitos, mas mantemos as causas. Se acreditarmos nas causas, como podemos deixar de viver os efeitos?

É preciso atacar a a causa e não o efeito...

O que são as coisas e pessoas do mundo? Criações da mente, consciências geradas por um pensamento. Elas não existem de verdade, mas são meras criações do eu-mente. Como podemos nos libertar das ações delas (efeitos), se ainda acreditamos nas causas (elas próprias)?

Se acreditar que tenho um inimigo, sempre vou acreditar que tenho que estar preparado para ser ferido. Se acredito na existência de um amigo, nunca vou estar preparado para a traição. Se acontecer aquilo que não estou preparado, como posso me libertar?

Como posso me libertar da traição do amigo, se ainda acredito nele como amigo, ou seja, se ainda tenho confiança nele? Mas, como me libertar do amigo, se ainda acredito que ele faz alguma coisa para mim? Como me libertar do que ele faz, se ainda acredito que ele existe? Só quando entender que o amigo ou inimigo são meras consciências geradas pelo eu-mente posso me libertar das ações deles e, por conseguinte, me libertar dos rótulos que dei a elas...

Esvaziar a vida não é só esvaziar a consciência que se têm de cada momento da vida, mas tudo o que nela aparece. Além de me libertar da declaração sobre o que cada coisa está fazendo, é preciso me libertar da ideia que estas coisas existem. Se elas continuarem existindo, estarão agindo e se agirem, haverá sempre um efeito da ação que será plausível de crença...

Foi isso que quis dizer anteriormente quando falei em personagem de um filme. Aquele que tem consciência de que é um personagem de filme sabe que os outros personagens e o próprio cenário são filme também.

Como deixar de ser um cowboy se ainda acredito que estou no velho oeste? Como deixar de ser um soldado romano, se ainda acredito que o cenário é a Jerusalém do tempo de Cristo? Como deixar de se envolver com a mocinha se ainda acredito que ela e o seu amor são verdadeiros? Como deixar de sentir raiva pelo meu inimigo se ainda acredito que moro num país e que pertenço a uma raça?

Existe apenas o eu-observador e o eu-mente. Quando acredito em qualquer coisa que não seja a minha própria existência, vivo a consciência criada pelo eu-mente. Neste caso, é impossível libertar-se dos efeitos que o eu-mente também cria...