Religiões

O fatalismo e o livre arbítrio dos espíritos

A partir da constatação de que ninguém age, vocês poderiam perguntar: ‘Então, Joaquim, você acabou de falar em fatalismo’? Ou seja, vocês poderiam me perguntar se acabei de dizer que os seres humanos são marionetes na mão de Deus?

Não, isso não faz parte da doutrina espírita dos espíritos. O que faz parte dela é que os atos da vida são fatalidades, são fatalistas, que eles decorrem do gênero de provação que o espírito escolhe antes de encarnar, mas que o espírito ainda mesmo que humanizado (alma) possui o livre arbítrio de vivenciá-los no bem ou no mal, no amor ou no egoísmo.

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser o livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois pelo que toca às provas morais e às tentações, o espírito, conservando o livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Ao vê-lo fraquejar, um bom espírito pode vir-lhe em auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar-lhe a vontade. Um espírito mau,isto é, inferior, mostrando-lhe, exageradamente aos seus olhos um perigo físico o poderá abalar e amedrontar. Nem por isso, entretanto, a vontade do espírito encarnado deixa de se conservar livre de quaisquer peias”.

Então veja. Fatalidade, marionete, existiria se você fosse obrigado a viver os acontecimentos de uma forma padrão, mas isso não é real. Todos têm a liberdade de viver o mesmo acontecimento com uma compreensão diferente: uns tem o direito de achar que aquilo é mal para ele, mas outros podem ver naquilo o amor de Deus por ele, ou seja, que aquele acontecimento é um bem.

Cada um usando do seu livre arbítrio vê uma coisa diferente e, desta forma, caracteriza o ato de forma diferenciada, o que acaba o fatalismo.

A doutrina espírita humanizada fala que a ação da Causa Primária como a doutrina espírita dos espíritos prega, gera o fatalismo, mas esta explica que isso não é real, pois o espírito tem o livre arbítrio de vivenciar as suas provações sentindo-se ferido, magoado ou vivendo no amor de Deus, sentindo-se amado pelo Pai.

Aliás, apegar-se a idéia do livre arbítrio do ato como garantia da existência da liberdade, é diminuir este direito que Deus deu a cada um dos seus filhos. Isto porque, enquanto a doutrina humanizada fala em apenas um momento livre, a doutrina espírita dos espíritos afirma que ele possui dois momentos de liberdade diferentes: o de programar as suas provas e o de gostar ou não daquilo que ele mesmo programou.

Esses são quatro pontos fundamentais que diferenciam a doutrina espírita dos espíritos e a humanizada no tocante ao elemento espírito:

não há ser humano, mas sim espírito encarnado;

não há vida, mas sim encarnações fundamentadas no livre arbítrio do espírito;

não há elementos agindo autonomamente no Universo, mas sim espíritos encarnados usando roupas de acordo com o planeta para criar na materialidade a provação para o próximo, o que é a obra de Deus;

não há pré-destinação porque cada espírito tem o direito de vivenciar aquilo que ele por moto próprio escolheu de forma diferente.

Muitos outros aspectos poderiam ser citados, mas todos eles existem por influência destes quatro.

Participante: Os espíritos, na fase inicial de humanidade, já têm condição de planejar a própria encarnação?

Claro porque ele não planeja atos, mas gêneros de provas que é a essências dos atos.

Os espíritos, seja no mundo das cavernas ou no século de hoje, pedem, por exemplo, para vencer o egoísmo: esta é a escolha que ele faz antes da encarnação. Para que esta provação possa acontecer Deus cria, então, um teatrinho de acordo com a época do planeta, com os elementos usados no planeta nesta época. Não importa que elementos estejam presentes, o gênero das provações pedido pelos espíritos estará sempre presente dentro na essência dos atos.

Com a prática desses ensinamentos os elementos materiais que compõem a ilusória realidade com que vocês vivem perdem o sentido que têm hoje e, por isso, não são importantes quando se estuda a encarnação do espírito.

Para aquele que, por exemplo, me disse que deveria enviar este texto para a Federação Espírita Brasileira, a prática destes ensinamentos destrói este organismo, pois ele passa a ser apenas um instrumento de suas próprias provas (amá-la da forma que é ou querer mudá-la porque você está certo e ela errada). Sendo assim, a própria doutrina que a Federação Espírita defende também não mais existe, pois se tudo que uma inteligência inferior faz é Deus que está dando para ele, esta doutrina é fruto do Pai.

Ela não é certa, mas Perfeita, pois é fruto de uma Inteligência Suprema. Agora, é a doutrina que eles precisam e merecem, pois foi criada como elemento de provações e não como verdade. Ou seja, é um ato de justiça e amor e nós. Se para você existe outra compreensão tenha a sua, mas não queira mudá-los, pois a sua compreensão também é Perfeita, pois provém da mesma fonte e é a sua provação.

Aquela pessoa que me disse que ao defender estas idéias junto a espíritas humanizados sentiu-se como se o estivesse apedrejando, com a prática destes ensinamentos as palavras continuam, mas o seu apedrejamento se encerra. É Deus quem está colocando aquelas palavras ao alcance de seus olhos ou ouvidos como uma vicissitude sua.

Ame a tudo e a todos. Esta é a prática do que estamos conversando hoje. Como disse anteriormente, é preciso, a partir deste conhecimento, mudar a compreensão dos acontecimentos da vida.

Quem me falou a respeito de passar as informações pelo crivo da razão, veja como agora a razão, ou seja, a compreensão racional da realidade muda. Passando os ensinamentos do mestre por esta razão, estará passando por um crivo espiritual, não mais humano. Com isso deixou-se de julgar o espiritual pelo humano.

Para poder compreender os fatos da forma que fiz agora, comparei a crença humana pela espiritual. E, para isso, não mudei nenhuma palavra de O Livro dos Espíritos. Simplesmente mudei a compreensão, a razão que se forma ao ter contato com os ensinamentos. Na realidade houve uma nova interpretação, ou seja, aconteceu um novo passar pelo raciocínio, mas agora com uma razão diferente que serviu de base para a formação da criação da verdade e da realidade.

Se você passar pelo crivo da sua razão espírita humanizada o que eu estou dizendo, tudo que estou falando está errado, mas se mudar os valores da sua razão, passa a estar certo.

O que o ser humanizado não deve fazer é tornar-se juiz e julgar com o crivo de sua razão materialista o que é certo e errado nos outros. O que deve ser feito é a espiritualização deste ser (ter razões mais espiritualistas e universalistas, fundamentadas na visão do espírito e não da matéria), porque só aí estará em conexão com os espíritos.

Mantendo-se humanizado, continuará vivendo humanamente, pois está conectado com o que é material. E como diz o Espírito da Verdade, tudo que é humano é fundamentado no egoísmo. Com isso não realiza aquilo que veio fazer: a reforma do seu íntimo.

“913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades”.

Participante: Na criação dos atos materiais os espíritos criam minuto a minuto ou existe uma espécie de programa de computador cósmico que cria os atos a partir das provações de cada um. E os animais?

O animal é espírito... Portanto, a resposta é a mesma nos dois casos.

O espírito escolhe o gênero da prova e a partir dele Deus monta representações materiais (acontecimentos) para que o espírito possa testar e provar a si mesmo que aprendeu aquele gênero de provas. Se você quiser dizer que para isso Ele se utiliza de um programa como aqueles que você conhece na informática, pode dizer, porque tudo isso é ilusão mesmo.