Expectativas

O culpado do sofrimento

Participante: acho que esse era o ponto central que precisa esclarecer nessa conversa.

Certo. Então me deixe colocar algo agora.

Você falou em uma coisa muito interessante para aquele que quer aproveitar essa encarnação para alcançar a verdadeira felicidade: ser vítima. Isso é uma questão que vocês devem evitar a qualquer custo: sentir-se vítima de algo ou de alguém.

Primeiro porque isso não traz felicidade para ninguém. Pelo contrário: só traz sofrimento.

Segundo: ninguém é vítima de ninguém. Se pudéssemos dizer que alguém é vítima, teríamos que dizer que o é dele mesmo. É o próprio ser humano que cava o buraco para plantar a semente do sofrimento que nascerá nele mesmo.

Se essa postura leva ao sofrimento, o sentir-se vítima, portanto, também é uma questão espiritual e por isso se torna importante na existência e gera a necessidade de um trabalho. Vamos falar dele.

Cada vez que um ser sente uma contrariedade durante a vivência da existência carnal, pode ter a certeza de que há a criação de um culpado para o que está sendo vivido. Não importa se essa culpa pode ser observada claramente ou não, cada vez que o ser vive uma contrariedade nomeia um algoz para si.

Esse é um aspecto que todo ser humanizado precisa compreender: não há como sofrer sem gerar um culpado pelo sofrimento. É importante essa compreensão, pois enquanto aceitar o sofrimento como causado externamente, jamais será feliz de verdade.

Só que essa culpa é uma falácia: se há um culpado do sofrimento é o próprio ser humanizado.

Participante: você é herança de você mesmo

Isso...

 Você é algoz de si mesmo no sentido de cobrar alguma coisa do mundo: coisas, pessoas e acontecimentos. É nesse sentido que estou falando.

Cada vez que você se contraria com alguma coisa, a sua mente encontrará um culpado pela contrariedade. Aceitando essa culpabilidade, o sofrimento será inevitável, a falta de amor acontecerá. Por isso, aquele que busca a elevação espiritual precisa nesse momento dizer a si mesmo: ‘não, a culpa do sofrer não reside nessa pessoa ou acontecimento, mas em mim mesmo’.

Vou usar o exemplo que mais uso para explicar isso porque acho que ele facilita a compreensão: alguém lhe chamar de feio. Se alguém chama um ser de feio e isso causa alguma contrariedade, com certeza ele viverá esse momento acusando quem proferiu a frase como culpado do seu sofrimento. Acredita que a contrariedade se origina no fato de alguém tê-lo chamado de feio.

Isso é uma inverdade. O que realmente causa a contrariedade não é o que foi falado, mas a expectativa de quem ouviu. Se quem ouviu a frase não quisesse, não esperasse, ser chamado de bonito, jamais se contrariaria com o que o outro falou.

É por isso que afirmo que se há um culpado do sofrimento quando alguém chama outro de feio não é o que foi dito, mas a expectativa, o desejo de ser chamado de bonito. Só que ninguém se lembra disso e trabalha para evitar o sofrer. Ao invés disso, se alguém o chama de feio o ser vai buscar a origem da contrariedade em centenas de fontes ou verdades e não na sua expectativa de vida.