Reforma íntima - Textos - volume 03

O barco

Todo ensinamento é como um barco que transporta o espírito pelo mar do conhecimento. Este barco nos levará do porto da ignorância até o da sabedoria. É o transporte leva os ignorantes para viverem em um mundo onde serão sábios.

Entretanto, ninguém pode afirmar que conhece o povo de algum lugar sem que tenha convivido com este. Pode visitar e conhecer pontos específicos, mas só saberá perfeitamente como é aquele lugar específico se viver lá, junto com os seus habitantes.

Por isto, não adianta apenas passear no barco entre os dois portos para dizer que se conhece a sabedoria: é necessário descer do barco e conviver no mundo dos sábios para se portar como tal.

Este pensamento nos leva a compreender que não se deve apenas aprender, mas também praticar. Aquele que apenas vive aprendendo idolatra o barco condutor, mas quando este voltar para a terra da ignorância, ele continuará a bordo e não mais será sábio. Afirmar que o barco é muito bonito, perfeito, limpo e arrumado (tem lógica), mas não colocá-lo na prática não garante a vida em novas terras.

O ensinamento é apenas um passaporte para a vida no novo mundo e não a própria vida. Ao ser atingido o ponto de chegada, é necessário que se caminhe por neste novo lugar, convivendo com seus moradores para que seja um deles. Apenas a prática do ensinamento pode transformar o espírito em um sábio.

Durante milênios a espiritualidade, comandada pelo Pai Supremo, tem passado ensinamentos para os espíritos encarnados. Todos eles objetivaram transformar a vida na carne (que premia a ignorância espiritual) para que ela sirva para a conquista da glória (sabedoria) na vida espiritual. No entanto, os espíritos que recebem estes ensinamentos prendem-se a eles apenas como “conhecimento” e deixam de colocá-los na prática.

Jesus nos disse que devemos amealhar bens no céu, onde os vermes e a ferrugem não os destroem. No entanto, fieis e os próprios Senhores da Lei das religiões oram e promovem cultos pedindo bens materiais. Fazem promessas e pedidos a santos no sentido de obterem emprego, saúde, casa, carro, comida. Todas estas coisas são bens materiais que serão roídos pelos vermes e estragados pela ferrugem.

O barco navegou pelo oceano e mostrou a terra da sabedoria, mas os espíritos, por comodismo preferem retornar a ignorância. Buscam o prazer imediato e não a felicidade eterna prometida por Deus. O sábio não pede que seus desejos se contemplem, mas busca em Deus a força e o entendimento para superar a ausência das coisas materiais. Ele não pede um prato de comida a Deus, mas sim a força para suportar a fome sem murmurar para que possa ganhar o Reino do Céu.

O ensinamento não pode ser apenas conhecido, decorado e adorado, mas deve ser utilizado a cada momento da existência material do espírito. É preciso colocá-lo em prática a cada segundo de vida material para que se alcance a sabedoria espiritual.

Jesus nos disse que apenas aquele que for pobre de espírito herdará o Reino do Céu. O pobre de espírito não é aquele que não possui bens materiais, mas aquele que não tem desejos a serem atendidos. O pobre de espírito é aquele que ama tudo o que tem e o que não tem. Desta forma ele estará juntando este bem (o amor) no céu para o gozo de sua vida eterna.

Aquele que busca satisfazer as suas vontades materiais se tornará um rico, quer seja monetariamente falando como de saúde ou de alimentação. Lembremos que Jesus também nos disse que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do céu”. Aquele que tem os seus desejos atendidos, sob qualquer prisma, é um rico, que dificilmente entrará no reino do céu.

Caminhar na terra da sabedoria é conhecer o ensinamento e aplicá-lo a cada momento da vida. Enxergar os acontecimentos de uma vida sob o prisma dos ensinamentos. Não importa qual seja o ensinamento que você acredite, se não aplicá-lo a cada segundo de sua vida, você estará navegando sempre entre os dois portos.