Vida cristã - Estudo da carta aos Efésios

Maridos e mulheres

Mulheres, obedeçam aos seus maridos, como obedecem ao Senhor.

Participante: esta é uma afirmação bem polêmica.

Já respondemos esta questão em outro livro de Paulo. O apóstolo era um ser humano, por isso ia e voltava nas suas afirmações. Como Cristo também teve, na passagem onde pergunta porque o Pai lhe abandonou, ele tem momentos de humano e outros de espiritual.

Como pode alguém que disse que a lei é que gera o pecado agora querer obrigar a mulher a servir o seu marido como serve ao Senhor? Se isso fosse levado ao pé da letra, teria desdito tudo o que já disse.

Portanto, nesta frase está aparente a humanidade de Paulo, que estava se ligando aos hábitos e costumes do povo de então. Como ela às vezes se apresenta, temos que separar as coisas.

Apesar disso, eu afirmo que a mulher deve sim obedecer o marido, assim como o marido deve obedecer a mulher. Digo isso porque esse é o ensinamento anterior de Paulo que também já vimos, onde diz que um deve obedecer ao outro. O respeito mútuo às necessidades do outro faz parte do amor universal.

Portanto, agora, ele não poderia dizer que só um tem que obedecer o outro. Por isso, não leve tão a sério esta questão.

Participante: a partir disso, podemos concluir que as religiões que levam esses escritos ao pé da letra, como direi, estão equivocadas? Que termo posso usar para elas?

Eu diria que levam ao pé da letra. Só isso.

Participante: como prova para aqueles que são vinculados a estas religiões?

Sim.

Até hoje existe a prova de espíritos onde a mulher tem que obedecer o seu marido. Antigamente ela era mais comum. Hoje nem tanto, mas ainda existem seres que precisam viver isso para suas provações.

Antigamente para a provação havia a necessidade da mulher sentir-se dominada pelo homem. Hoje essa teatralização de provas é mais difícil, apesar de continuar existindo. Isso quer dizer que Deus já está trabalhando com uma nova programação para as provas, mas quando é o caso, ela ainda está disponível.

Hoje os seres que encarnam como mulheres já possuem mais liberdade, mas isso também não é algo para se supervalorizar, pois continua sendo uma prova: a de não confundir liberdade com libertinagem. Antes as provas eram vividas com subordinação ao marido, hoje com o anseio de ser superior à ele.

Porque o marido tem autoridade sobre a mulher, assim como Cristo tem autoridade sobre a Igreja. E o próprio Cristo é o Salvador da Igreja, que é o seu corpo.

Aqui Paulo está afirmando que o marido é o salvador, o senhor do casamento. Só que muitas vezes ele é que decreta o fim deste.

Participante: mas, não existe regra para isso. Depende da prova de cada um.

Sim.

Portanto, as mulheres devem ser completamente obedientes aos seus maridos, assim como a própria Igreja é obediente a Cristo.

Maridos, amem as suas mulheres, assim como Cristo amou a Igreja e deu a sua vida por ela. Ele fez isso para dedicar a sua Igreja a Deus, lavando-a com água e purificando-a com a sua palavra. E fez isso também para poder apresentar a si mesmo a sua Igreja em toda a sua beleza, perfeita, sem rugas ou qualquer defeito.

Vamos falar sobre este trecho? Acho que merece uma reflexão, não?

Paulo diz: Cristo lavou a igreja com água e a purificou com a sua palavra. Fez isso para poder mostrar a beleza da igreja. O que está sendo dito aqui é que a beleza da igreja é conhecida pela mensagem de Cristo. Só que hoje, a mensagem que é apresentada pela igreja é completamente diferente daquela que o mestre apresentou. Mas, apesar disso, para vocês, é a igreja de hoje que é boa.

Para os humanos de hoje a igreja boa é aquela que ensina mistérios do mundo espiritual, mas Cristo nunca ensinou nada neste sentido. A igreja boa é aquela onde eles conseguem ganhar alguma coisa, mas Cristo nunca ganhou nada da sua igreja. Como pode a igreja de hoje, de qualquer religião, ser boa?

A igreja limpa, perfumada, bela é aquele que transmite a mensagem de Cristo, ou seja, aquele que lhe ensina a viver como o mestre viveu a sua vida. Se a igreja existe para suprir as carências humanas, ela não é tão limpa, pois ela destoa da vida humana do mestre.

Esse recado é muito importante para que cada um possa começar a reavaliar qual o lugar é mais propício para se encontrar apoio na caminhada espiritual. Será que esse lugar é onde passam a mão na sua cabeça, onde dizem que você é puro e santo e que todos que lhe são contrários estão errados? Ou será que o lugar ideal para essa finalidade é aquele onde lhe chamam de vermes?

Participante: mas, chamar de vermes?

Sim, porque foi assim que o mestre se referiu aos apóstolos que estavam preocupados em assumir o comando depois da morte de Jesus Cristo: vermes, até quando vou ter que aguentá-los. Isso está na Bíblia.

É assim que o mestre se refere ao ser que vivencia a humanidade como se fosse algo justo, certo. Ele se refere a estes como professores da lei, vermes imundos, hipócritas, mas a igreja, o templo de qualquer religião se refere a estes como bonzinhos.

Portanto, não procure lugar onde bajulam a sua humanidade, pois estes não são igrejas lavadas e purificadas com as palavras de Cristo.

Os homens devem amar as suas mulheres assim como amam o seu próprio corpo. O homem que ama a sua esposa ama a si mesmo. Porque ninguém nunca odiou o seu próprio corpo; ao contrário, alimenta-o e toma conta dele, como Cristo faz com a Igreja, pois somos membros do seu corpo. Como dizem as Sagradas Escrituras: “É por isso que o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa”. Há uma grande verdade revelada nessa parte das Escrituras, e eu digo que ela se aplica a Cristo e à Igreja. Mas também se aplica a vocês: cada marido deve amar a sua esposa como a si mesmo, e cada esposa deve respeitar o seu marido.

Vamos tentar entender isso como Paulo nos ensina.

Ele fala que o homem e a mulher deixam a sua casa e formam um novo núcleo onde não exista marido ou mulher, ou seja, fala de um lugar onde os dois fundem-se num só.

O apóstolo está dizendo primariamente algo que repetimos há pouco tempo. O casamento perfeito acontece quando cada um dos seus membros abre mão de tudo em favor do outro. Com isso, os dois seres constituem uma nova identidade: o casal. Quando isso acontece, os dois vivem as verdades do casal e não mais as suas verdades individuais.

Quando existe um casal, quando cada um vive para o outro, o homem nem a mulher vivem mais as suas próprias verdades, mas sim aquelas que resultam da fusão deles. O problema é que o marido casa com a mulher e continua querendo ser ele mesmo e ela da mesma forma. Isso não dá certo, pois os dois se chocam o tempo inteiro.

Neste caso não há um casal, não há um casamento. O que existe são duas individualidades que coabitam o mesmo teto.

Mas, o ensinamento de Paulo nos leva ainda mais longe neste trecho. Ele diz que o casal formado pelo casamento é o mesmo que existe da fusão de Cristo com a igreja. Diante dessa afirmação temos que compreender que não existe igreja sem Cristo e nem Cristo sem igreja.

A igreja que estou falando aqui não é especificamente da católica ou evangélica. Estou usando este termo referindo-me a qualquer lugar onde se pratica uma religiosidade.

Não existe templo onde se exerça a religiosidade se lá não estiver Cristo, o amor. É preciso a fusão perfeita entre a igreja e o Cristo, a religiosidade humana e o amor universal. Se a religiosidade é a ação da religação com o espiritual, com Deus, esta precisa estar perfeitamente sincronizada com Cristo. Por isso, não pode ser vivida com experiências não vivenciadas pelo mestre nem com um amor diferente do que ele ensinou.

É isso que Paulo está ensinando. Se não houver a fusão da religiosidade humana do ser encarnado com a mensagem e o amor ensinado pelo mestre, não há casamento entre o espírito e Deus. Por isso, quem exerce essa religiosidade buscando a felicidade, o prazer, na Terra, não consegue se juntar a Deus.

Quem busca, por exemplo, na sua religiosidade a vingança contra o mal sofrido, não se funde com Deus. Quem busca na sua religiosidade a conquista de bens ou de suprir carências, não se funde com Cristo. É isso que Paulo está nos dizendo.

É preciso que a religiosidade do ser encarnado, ou seja, a busca da religação com Deus, esteja perfeitamente harmonizada com os ensinamentos e o amor deixado por Cristo. Se não houver este direcionamento, não há o casamento, não há a ligação com Deus.