Bem aventurado - Mateus - conversa 03

Jesus cura o empregado de um oficial romano

Quando Jesus entrou na cidade de Cafarnaum, um oficial romano foi encontrar-se com ele e pediu que curasse o seu empregado. Ele disse: Senhor, o meu empregado está na minha casa, tão doente, que não pode nem se mexer na cama. Ele está sofrendo demais. Eu vou lá curá-lo! — disse Jesus.

O oficial romano respondeu: Não, senhor! Eu não mereço que o senhor entre na minha casa. Dê somente uma ordem, e o meu empregado ficará bom. Eu também estou debaixo da autoridade de oficiais superiores e tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Digo para um: “Vá lá”, e ele vai. Digo para outro: “Venha cá”, e ele vem. E digo também para o meu empregado: “Faça isto”, e ele faz.

Quando Jesus ouviu isso, ficou muito admirado e disse aos que o seguiam: Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nunca vi tanta fé, nem mesmo entre o povo de Israel! E digo a vocês que muita gente vai chegar do Leste e do Oeste e se sentar à mesa no Reino do Céu com Abraão, Isaque e Jacó. Mas as pessoas que deviam estar no Reino serão jogadas fora, na escuridão. Ali vão chorar e ranger os dentes de desespero.

E Jesus disse ao oficial: Vá para casa, pois será feito como você crê.

E naquele momento o empregado do oficial romano ficou curado. Mateus 8. 5-14

Só vamos lembrar que Jesus fala por parábolas. O que é uma parábola? Uma historinha que serve para passar um ensinamento. Tem uma história que nos ilustra a questão da parábola.

A verdade andava nua pelo mundo. Ninguém olhava para ela porque estava pelada. Aí a verdade colocou uma roupa bonita. Essa roupa, que ela chamou de parábola, é uma história fictícia que traz uma moral embutida. Vestida desse jeito as pessoas acharam a verdade bonita e passaram a observá-la.

Retirando a roupa da verdade nessa história, afirmo que não existiu nenhum oficial romano que chegou-se a Cristo para pedir por um empregado. Os oficiais, por causa de sua soberba, não pediriam pelos seus filhos, que dirá por um empregado. Empregados eram substituíveis, por isso não teria por que um oficial romano pedisse alguma coisa a Cristo por um. Além do mais, esse oficial seria condenado, pois dentro da visão daquele povo estaria traindo Roma.

Então, esquece a história desse texto. O importante para nós é ter acesso ao ensinamento e não sobre o que algum oficial romano tenha feito.

Por isso, pergunto: qual o ensinamento passado nessa história?

Participante: o reconhecimento da autoridade de Cristo?

Não.

Participante: a fé?

Não.

Leia de novo, por favor, a palavra do oficial romano.

Participante: ‘Eu também estou debaixo da autoridade de oficiais superiores e tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Digo para um: “Vá lá”, e ele vai. Digo para outro: “Venha cá”, e ele vem. E digo também para o meu empregado: “Faça isto”, e ele faz’.

Perfeito. Qual é o ensinamento que está aí?

Participante: para mim é a autoridade de Cristo.

Não tem nada com autoridade de Cristo.

O oficial está falando dele mesmo. Diz: ‘eu tenho superiores e eu tenho inferiores. Quando digo para o meu inferior faça isso, ele faz. Quando o meu superior diz para mim faça alguma coisa, eu faço’. Onde está Cristo nessa história para que essa fala seja a respeito da autoridade do mestre?

Participante: Cristo seria uma autoridade superior.

Não! Cristo nem falou nada diretamente para o oficial. Qual a fala do mestre nesse texto? ‘Eu nunca vi tanta prova de fé’. Aí está o ensinamento.

Participante: para mim isso representa prova fé em Deus, autoridade superior.

Não!

Lembre-se que o romano não acreditava no mesmo Deus de Cristo nem dos judeus. Por isso, Cristo não poderia estar falando da fé a um deus específico.

Já que não acertaram, vamos lá. O ensinamento presente nessas palavras de Cristo é o saber que ninguém é absoluto. Saber que ninguém é absoluto é a maior prova de fé a Deus.

Cristo está ensinando que os seres humanizados precisam compreender que ninguém é o todo poderoso, que ninguém está sempre certo, que ninguém tem o poder para determinar o que tem que acontecer. Mais: que é preciso saber que todos têm inferiores, mas também têm superiores. A partir disso, compreender que se quer que o seu superior lhe respeite, é preciso respeitar o seu inferior. Isso também é prova de fé a Deus.

Porque isso é prova de fé? Porque na hora que o ser humanizado compreende o funcionamento da máquina humana e não confere a si o poder de todo poderoso, consegue viver em harmonia com tudo e com todos. Aceita quando alguém manda nele e manda no outro sem estar corrompido pelo poder.

Isso é o ensinamento dessa parábola. Essa é a prova de fé. Aqui não há nada a ver com o poder do Cristo ou com a fé em Deus como vocês imaginam. Tem a ver em como conviver com o mundo, pessoas, acontecimentos e objetos, quando se conhece o segredo da engrenagem da máquina humana: o palco das provas da encarnação de um espírito.

O ser humanizado precisa compreender que ninguém pode nada sozinho.

Participante: interdependência.

Isso! Uma interdependência que o tira do trono de rei e coloca como um ser humano comum, como uma peça da engrenagem da humanidade.

Na humanidade não existe um rei, não existe um dono, não existe um certo. Todos estão uma hora subordinados a uns e outra hora lidando com subordinados a si. É essa engrenagem que o ser humanizado precisa compreender para poder ser feliz e não se sentir o dono do mundo: ‘eu mando e todos têm que fazer; ninguém pode mandar em mim’.

Participante: esse é o ditador.

Sim. É prova de fé aceitar a existência de superiores e inferiores.

Sei que vocês dizem que essa aceitação é algo natural, normal, mas não é. É muito difícil o ser humanizado aceitar essa bipolaridade.

Na hora que estão conversando com outro, os seres humanizados nunca acham que estão em pé de igualdade. Consideram que eles estão certos, que sabem a verdade, e que o outro está errado, que não sabe. Quando agem assim, perdem a fé que Cristo elogiou através dessa parábola.

Esse é o ponto desse texto. Não é o poder sobrenatural de Cristo, pois como disse, a questão da cura é história, roupa da verdade. O ir ou não à casa do oficial também é história que não tem importância. O que realmente importa nesse texto é a palavra de Cristo: ‘nunca vi fé tão grande entre os judeus’.

Porque Cristo fala assim dos judeus? Porque eles se achavam superiores, povo escolhido por Deus, os melhores do mundo. O resto da humanidade, para eles era inferior. Mesmo naquela época, quando estavam dominados, os judeus pensavam que era eles que tinham que mandar nos romanos, pois eram o povo escolhido de Deus.

É por causa dessa soberba que a fala de Cristo diz: “Têm muitos estrangeiros do norte e do sul, do leste e do oeste, que vão se sentar à mesa junto com Moisés e Abraão, como os patriarcas do povo escolhido, sendo que muitos judeus não se sentarão lá”.

Porque esses judeus não se sentarão à mesa? Porque se acham melhor do que os outros.

Esse pedaço fala disso. Fala da aceitação da vida societária com seus altos e baixos. Fala em entender que não há um melhor que o outro nesse mundo, que todos são iguais. Todos têm momentos de superioridade e outros de inferioridade. Fala que ninguém é absoluto a ponto de determinar o que é certo, verdadeiro ou deva acontecer. Que tudo que quer tem que acontecer do jeito que quer.

Essa é a fé, a entrega que Cristo afirma necessária para alcançar a bem aventurança: a entrega à própria vida, pois Deus é a vida.

Participante: entrega aos ensinamentos.

Entrega a vida. Aceitar o seu momento com humildade, seja de superioridade e inferioridade.

A melhor frase a respeito desse ensinamento é: ninguém é absoluto. O que é absoluto? Eterno e igual pra todos. Alguém que seja absoluto é o que detém tudo, que é o dono de tudo para sempre.

Compreender isso faz parte do trabalho da felicidade. Isso porque se você não aceitar que nesse mundo não é o absoluto, vai querer mudar o mundo para o que você acha que tem que ser. E aí vai sofrer. Vai ter posses, paixões e desejos, e por isso vai sofrer.

As pessoas acham que é preciso se agir certo. Está bem, mas que certo: o seu, o meu ou o de outra pessoa? Se você se acha absoluto, vai dizer que é o seu certo, pois o dele está errado.

É disso que trata essa passagem. A perfeita compreensão dela é importante para que as pessoas deixem de imaginar que são o sol do mundo, o centro do universo. Não, ninguém é, pois a vida não gira em torno de ninguém.

Participante: você me lembrou o Apocalipse falando que o judeu se julga o melhor. Em que momento foi posto isso para aquela raça? Não foi no êxodo, não é mesmo? Antes já se falava disso, não?

Essa ideia vem desde o tempo de Abraão. Quando Deus o coloca como pai do povo judeu diz que aquele povo é o escolhido de Deus.

O trato que Deus fez com Abraão dizia que ele seria o patriarca da raça judaica que era a escolhida por Deus. Os filhos de Deus. Desde então e até hoje eles acham que são a raça escolhida por Deus. Por isso continuam não se se sentando à mesa como está dito nesse trecho que vimos.