Bem aventurado - Mateus - conversa 03

Enfrentando as tempestades da vida

Participante. vamos trazer para uma situação real. Recebi a missão de fazer algo, mas não fiz. Tenho tempo, tenho os instrumentos para isso, mas não consigo fazer.

Certo, não consegue. E daí?

Participante: isso me incomoda. Fico brigando comigo mesmo: você sabe que tem que fazer e não vai. Tenho que ter uma atitude positiva com relação a esse incômodo?

Sim: ‘eu não aceito o sofrimento por não fazer o que deveria fazer’.

Fale duro consigo mesmo: ‘eu não aceito. Não vou deixar o fato de não estar fazendo acabar com a minha paz. Vou continuar lutando para fazer, mas quando fizer, fiz’.

Entenda uma coisa: o problema não está no fato em si, mas no valor que você dá ao fato.

Falar com autoridade é: ‘não estou, acabou’! De nada ficar floreando a situação: ‘não estou fazendo porque Deus não quer, porque estou sendo assediado para não fazer’, etc. Você não sabe porque não está fazendo; apenas sabe que não está. Por isso precisa assumir o não estar fazendo ao invés de ficar inventando motivos para não fazer.

Há outro exemplo seu que fica muito mais fácil compreendermos. Se me permite usar ...

Participante: sim.

 Uma vez você veio aqui conversar dizendo que estava preocupado. Havia pego um dinheiro emprestado com sua mãe para comprar um carro e não tinha contado para ninguém. Aí sua irmã descobriu. Você estava com medo do que ia acontecer, o que ela ia falar, o que ia fazer.

Lembra o que disse? Assuma!

Você pegou o dinheiro. Naquela hora achava que estava certo fazer, mas agora passou a achar que foi uma coisa errada. Por isso assuma.

Assuma. Se sua irmã vier e perguntar se pegou, responda: ‘peguei, Na hora achei que era certo, achei que poderia pagar. Não deu certo, mas não fiz querendo desfalcar a mãe’.

Eu disse: assuma com humildade. Dê a sua irmã o direito de achar que você fez errado. Pouco importa se você achava que era certo: ela tem o direito de achar que está errado.

É disso que eu estou falando. É esse assumir que deve fazer com o que está passando agora: ‘se não estou fazendo, não estou. Ponto final. Não sei qual o motivo para isso, apesar de achar que podem ser muitos. Só sei que não estou’. A partir do momento que assume que não está, ganha autoridade para poder enfrentar a onda gerada pela mente porque não está fazendo.

Pouco importa se está ou não cumprindo a missão que recebeu. O que precisa ter é o controle sobre você mesmo. Esse só existirá quando assumir o que é e o que está a cada momento. É isso que dá autoridade para poder enfrentar a onda gerada pela mente e não o quer descobrir o motivo pelo qual não está fazendo.

Também não se preocupe com o futuro. A mente diz: ‘um dia, uma hora, vai acontecer; você vai conseguir fazer’. Responda: ‘não sei se vai. Só sei que agora não estou. Por isso tenho que assumir os reflexos de não estar’.

Quando você assume o reflexo de não estar, o incômodo por não fazer já não existe mais. Apenas não está. Se o incômodo ataca é porque você não enfrentou com autoridade, ou seja, não se colocou na sua posição.

É essa questão que precisa ser colocada: assumir o que está acontecendo ao invés de achar que se não está fazendo é porque Deus não quis. Não estou dizendo que você especificamente faça isso, mas muitas pessoas usam essa pílula.

Participante: a mente dá um monte de motivos e você vai refutando, mas acaba cedendo. Aliás, essa questão é a que mais me incomoda: a mente não contar o motivo pelo qual não estou fazendo.

Isso. Também com relação a isso assuma: ‘posso imaginar diversos motivos, mas nunca terei certeza absoluta do porquê. Por isso vou parar de me preocupar com essa coisa. Vou apenas saber que não faço’. Na hora que fizer isso, não saberá, como aliás já não sabe hoje, mas pelo menos não viverá mais nenhum incômodo.

Participante: a imagem que me veio à cabeça ao ver vocês dois conversando é que, entre aspas, a humanidade é ameaçadora. Nós sofremos ameaças do ego o tempo todo. A autoridade que estamos falando é contra a ameaça que nos coloca uma culpa na cabeça.

A culpa, medo, angustia, preocupação.

Essas emoções estão à segunda tentação de Cristo que já falamos: ser escravo do sistema humano de vida. O ser humanizado se torna escravo do sistema porque cede àquilo que a mente cria.

Participante: exatamente.

A mente ameaça o ser humanizado o tempo inteiro. ‘Olha se você não fizer isso, sabe o que vai acontecer? Você vai perder aqui e ali, vai perder o não sei o que. Vai acontecer isso com você, vai acontecer aquilo com alguém que lhe é caro’. Ela vive ameaçando.

Participante: exatamente o que aconteceu na história que Joaquim acabou de falar. Minha mãe disse que não ia contar, mas acabou contando. Eu pensava que minha irmã ia achar que eu me aproveitei da idade da minha mãe. Estava com medo dela me acusar. Sabe o que aconteceu? Nada!

Foi exatamente o que disse: enfrente a situação. Diga a ela: ‘peguei sim. Precisava, achei que era certo, que não haveria problemas. Agora, se você acha que foi errado, lhe dou o direito de achar’. Ponto.

Participante: mas, nem isso aconteceu. É o que ele falou agora: a ameaça do que pode acontecer fica rodando na nossa cabeça.

O sistema humano de vida só trabalha em cima de ameaça: ‘se não me servir, vai acontecer isso com você’.