Religiões

Causa Primária

Estas são as propriedades citadas na pergunta 13 de O Livro dos Espíritos. No entanto, além dela, a pergunta 01 também faz menção a duas propriedades de Deus que são muito esquecidas pela doutrina espírita humanizada:

“0001. Que é Deus? Deus é Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas”.

Deus é a Inteligência Suprema. O que quer dizer isso?

Inteligência para a humanidade é a capacidade de análise que gera um reconhecimento da verdade e da realidade. Se Deus, então, é a capacidade suprema de discernimento, só Ele sabe. Todos os outros seres do Universo, acham que sabem, imaginam saber, mas só tem notícias. Só Deus conhece a Verdade, conhece a Realidade.

É isso que ensinam e acreditam os espíritos.

Mas, agora vamos fechar todo o conhecimento possível sobre o Senhor Supremo com a última propriedade de Deus constante da doutrina espírita dos espíritos: Deus é a Causa primária de todas as coisas. Ou seja, é Aquele de onde se origina primariamente tudo.

A ênfase no tudo é importante porque tudo quer dizer todas as coisas que existem, conhecidas ou desconhecidas por você. Não importa o que seja, aquilo não existiria se Deus não o houvesse causado primariamente.

Esta é a doutrina dos espíritos. Tudo que acontece é causado por Deus, fruto de um raciocínio supremo e é gerado com justiça amorosa, não punitiva. Os espíritos cantam louvores e entregam-se a Deus submetendo-se a tudo o que Ele causa porque sabem que o amor embutido na justiça jamais deixará de existir. Isto por que:

Deus é eterno, ou seja, a causa primária sempre existirá;

Deus é imutável, ou seja, a justiça amorosa estará sempre presente o que garante que não há injustiças;

Deus é imaterial, ou seja, a causa primária de todas as coisas jamais se deixará levar pela ilusão material;

Deus é único, ou seja, a causa primária de todas as coisas será sempre Ele e mais nada;

Deus é onipotente, ou seja, que ninguém mais pode causar nada no Universo, sem que ele tenha primariamente estabelecido a ação o que confere a ela, seja feita porque que elemento for, a justiça amorosa.

Então aí está o fundamento primário sobre Deus na doutrina espírita dos espíritos. Os espíritos cantam louvores ao Senhor porque eles sabem que tudo é Deus, já que tudo que acontece foi gerado primariamente pelo Pai.

Mas, na humanização dessa doutrina, ou seja, na doutrina espírita humanizada, Deus perdeu o atributo de causa primária de todas as coisas. Dentro da compreensão da realidade dos seres humanizados que afirmam seguir a doutrina espírita, as ações acontecem porque o outro espírito, com seu livre arbítrio que lhe concede o direito escolher o que fazer, faz o que quer.

Essa doutrina não se coaduna em nada com a doutrina dos espíritos no tocante ao conhecimento sobre Deus. Senão vejamos...

Se alguém pode fazer alguma coisa somente a partir de sua própria vontade, temos que dizer que esta pessoa tem que ter a inteligência suprema, pois ela é necessária para que se possa causar primariamente alguma coisa. Se assim não fosse, teríamos, então, que aceitar que inteligências inferiores podem causar algo...

Mas, na pergunta 9 de O Livro dos Espíritos fica bem claro que isso é impossível. Sendo assim, a doutrina dos espíritos não aceita que uma inteligência inferior possa causar espontaneamente qualquer coisa.

“09. Em que é que na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências? Tendes um provérbio que diz: pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater”.

No entanto, a humanização a respeito da capacidade de agir não pode nem ser atribuída ao Codificador (Allan Kardec). Isto porque ele compreendeu assim a questão da ação da causa primária nas inteligências (espíritos):

“Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à humanidade”.

“Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem”.

Portanto, a informação de que o espírito, em qualquer nível, encarnado ou não, não pode fazer parte da doutrina espírita, se quem a segue quiser realmente possuir a Verdade e viver a Realidade que os espíritos conhecem.

Mantendo a informação do livre arbítrio que concede ao espírito a causa primária das suas ações, chegamos ao segundo ponto. Se quem está fazendo não tem a o discernimento supremo, acabou a justiça. Ela só pode existir quando a análise foi executada por uma inteligência suprema, ou seja, por quem tem a capacidade máxima de discernimento da Verdade e da Realidade.

Por isso a humanidade, mesmo aqueles que dizem que comungam com a doutrina dos espíritos, acusam a existência da injustiça. Se os espíritas seguissem a doutrina espíritas dos espíritos descobririam que a causa primária de todas as coisas é eternamente justa e amorosa e jamais se muda. Por isso veriam que a injustiça, o desamor e o desequilíbrio são elementos que não fazem parte do Universo de Deus.

Continuemos em nossa análise. Se cada um pudesse fazer o que quer, cada um seria um deus, pois seria a causa primária do que faz. Então, a doutrina espírita humanizada consagra a existência de múltiplos deuses, mas a dos espíritos fala em apenas um Deus (único).

Se o espírito encarnado pode fazer, agir livremente, quando esta encarnação acabar suas ações se encerrará? Então seria um deus (causa primaria) que não é eterno?

São estes aspectos que precisamos analisar quando queremos aplicar a doutrina espírita dos espíritos em nossas vidas. A humanização desta doutrina no tocante ao livre arbítrio, gerou uma descaracterização que humanizou o ensinamento dos espíritos.

Existe o livre arbítrio sim e bem mais amplo do que os espíritas imaginam, mas disso, falaremos mais tarde. Por enquanto o que precisa ficar bem claro é que para os espíritos,

Deus é único, portanto, só ele é a causa primária de todas as coisas;

é eterno e imutável e por isso a causa primária será sempre igual;

a justiça sempre existe, porque a causa primária possui a inteligência suprema e por ela aplica a justiça rigorosamente perfeita;

a justiça aplicada não é um castigo ou uma punição, mas sim a tradução do amor do Pai.

Aí estão as diferenças entre as duas doutrinas no tocante à prática do conhecimento do elemento Deus. Os espíritos lidam com um Ser Supremo que é uma Inteligência Suprema e que aplica a Causa Primária com justiça amorosa, que nunca se alterou e nunca deixará de existir. Já a doutrina espírita humana trabalha com um deus inativo que cria e fica apenas observando e, por isso, deixa de ser a causa primária de tudo. Este Deus não é amoroso porque fica observando com a intenção de julgar, apenar e penalizar o espírito. Com isso transformou Deus num justiceiro e acabou com o amor.

Estas são as duas posições que nós temos que pensar.

Participante: Sobre ser instrumento de Deus, tem algo a ver com a santíssima trindade? Três são a mesma pessoa, mas cada um faz parte do Todo?

É mais ou menos isso. Todos os elementos juntos formam uma trindade que se funde num só: aquilo que é chamado de Universo.

No entanto, não estou falando que o Todo universal é composto por Deus, Cristo e os espíritos, mas na trindade formada por Deus, espírito e matéria, como já vimos (citação da pergunta 27 de O Livro dos Espíritos feita anteriormente).