Bem aventurado - Mateus - Conversa 02

A oração

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.” (Mt. 6, 5 e 6)

O que é orar? O que é uma oração? É uma prática religiosa. Por isso, posso estender o que Cristo fala aqui não somente ao ato de orar, mas a toda prática religiosa de uma ser humanizado.

Como o assinante desse pacto com Deus deve realizar a sua prática religiosa? Sem a necessidade de ir à igreja, ao centro, ao terreiro ou ao templo. A prática religiosa é feita no íntimo de cada um.

Tem muitos que vão ao centro ou a qualquer outro lugar para realizar a sua prática religiosa, mas não a está realizando dentro de si. Que adianta ir? Participam da palestra, da gira ou seguem todos os rituais da missa e do culto, mas o seu mundo interno está em outra parte. De que adianta estar presente fisicamente ao acontecimento?

Esses já receberam o que tinham que receber. O que foi? O prazer de estar ali. A realização do ato desejado: estar ali. Eles não vão receber mais nada, como por exemplo a bem aventurança. Já aquele que pratica a sua religiosidade dentro do seu mundo interno, estando dentro do centro ou não, recebe o que é prometido por cumprir o acordo.

Participante: mas o que seria praticar essa religiosidade?

Sua fé.

A religiosidade tem doutrina e rito. Na religiosidade se pratica o rito. Por exemplo, meditação.

Meditar é um rito de uma religiosidade. A prática desse rito religioso deve ser feita no seu íntimo, não no seu mundo externo. Quem sabe disso, ao invés de se preocupar com posições do corpo que mostrem a meditação, ocupa-se com o pensar os seus pensamentos.

Todo o ritualismo religioso deve ser feito no interno e só ocupar-se com ele. Por isso pode ser feito em qualquer lugar e a qualquer momento, ao invés de se preocupar com o dia certo para ir para o centro ou igreja ou com a forma externa de fazer a meditação.

Participante: nós espiritualistas que seguimos seus ensinamentos, falando por mim, depois de estudar e praticá-los não consigo fazer praticamente mais nada de rituais.

Nenhum problema. Estou comentando porque tem gente que mesmo depois de ouvir ainda reza, faz oração, meditação, acende vela para Santo. Isso não tem problema, é ato. Pode acontecer ...

Para quem ainda pratica tais ações fica o conselho: tudo isso tem que ser vivido internamente não externamente. Quem faz preocupado com o externo faz para que outros vejam. Esses já receberam o que mereciam.

Participante: eu não faço nada.

Não tem problema, mas tem gente que faz.

Se o que estou falando não serve para você porque não pratica nenhum ritual religioso, ótimo, louvado seja Deus. Agora, não se esqueça que o ato de pensar nos ensinamentos, como você faz, é um ritual religioso. É um ato que está ligado a uma doutrina religiosa. Isso é um ritual

Participante: pode-se falar que a oração seria um sintonização, não importa o ato que seja praticado?

Pode. Se você usar ela para sintonizar.

Tem muita gente que usa a prece para outras coisas e não para se sintonizar. Por isso não se sintoniza durante a prece.

“Nas suas orações, não fiquem repetindo o que vocês já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas. Não sejam como eles, pois, antes de vocês pedirem, o Pai de vocês já sabe o que vocês precisam antes de pedirem.” (Mt. 6, 7 e 8)

Esse é outro detalhe desse item do acordo. A oração, como um ato religioso, não pode ser feita com nenhuma intencionalidade. Nenhuma.

‘Não peço nada, só rezo para ter mais saúde’, ‘não peço nada para mim, apenas quero ajudar meu vizinho que está com câncer’. Parecem coisas puras, boas, mas contém intencionalidade. Por isso não devem existir durante a prática da oração no seu íntimo.

Participante: porque não pode?

É como se você dissesse: ‘Deus eu quero que seja feito isso...’ Mesmo que aparentemente contenham boas intenções, mostra o não aceitamento dos desígnios de Deus.

Participante: mas eu pedindo, se Ele quiser fazer faz, se não, não faz ...

Ah, mas essa condicionalidade no pedido não está presente na oração. Esse é o problema.

Se ao pedir demonstrasse sua predisposição para aceitar os desígnios Dele, não haveria problema. Acontece que quando ora pedindo alguma coisa está sempre presente no seu íntimo a esperança que Ele faça o que você quer, o por que rezou.

Esse é o problema. Noventa e nove vírgula nove por cento das pessoas que pedem algo durante a oração esperam que Deus as ouça, ou seja, atenda o pedido. Se não conseguir sofre. É por isso que não pode pedir nada, mesmo que aparentemente seja algo do bem. Lembre-se: quem age com intenção não se entrega a Deus. Deus: vida, energia, o que quiser que Ele seja.

Quem espera receber algo, tem intenção, está se entregando a si mesmo. Digo isso porque como condiciona a felicidade, só será feliz se acontecer o que pediu. Nesse caso, não é felicidade, mas prazer, felicidade condicionada.

Participante: a respeito desse assunto, uma vez tive uma lição de uma moça japonesa que era caixa do banco. Estava chovendo e eu falei pra ela “que droga, não gosto de chuva”. Estava com um mal humor ...” Ela falou exatamente isso: tem que ser feliz com qualquer tempo, com sol, com chuva...

Até porque a comida não nasce no supermercado, é preciso chuva para ela crescer e você poder comer. Como diz as pessoas que plantam, quando chove o tempo está bom, pois garante que haverá o que colher.