Hidra

As cabeças do monstro

É urgente porque vocês podem constatar o quanto de escra-vidão ao sistema humano está acontecendo no mundo. Mais: que os efeitos dessa escravidão estão aumentando, pois o monstro está adquirindo muitas cabeças ...

A coisa está tão pior que um dia de manhã vocês discutem uma questão, de tarde outra e de noite discutem outra diferente. Antigamente, vocês discutiam um assunto durante um mês, depois passaram a ter assuntos a cada semana e mais recentemente havia um assunto novo a cada dia. Agora existem três ou quatro novos no mesmo dia. Por isso, se metem em seis, sete discussões para dizer qual é o ponto de vista certo, para cobrar a mesma opinião dos outros e para obriga-los a se mudarem.

E isso vai piorar... e vai piorar.

Participante: Não sei como, Joaquim, porque a coisa já está em um ponto que a velocidade da informação está tão rápida, tão imediata que é preciso se posicionar, digo, o sistema humano de vida cobra uma posição de você. Dia que tem que ficar apoiando ou dis-cordando o tempo todo. Como a internet hoje tem acesso a todo tipo de informação e você está trocando informação com milhares de pes-soas, tem que ficar jogando com todo mundo. É um bagulho muito louco.

Você falou a velocidade da informação. Qualquer informa-ção, hoje, gera uma coisa: o que? O que qualquer informação que recebe gera em você?

Participante: Uma opinião.

Opinião... olha a cabeça do dragão, do monstro.

Cada opinião que você tem sobre alguma coisa é uma cabe-ça do monstro da qual precisa se libertar. Estou falando em libertar-se, não cortar as cabeças dele. O monstro continuará com as cabe-ças, ou seja, haverá na sua personalidade humana opiniões, só que por você não ter mais medo dele, se liberta de tê-las também. No trabalho do renascimento você enfrenta a hidra do sistema humano de vida.

Vejamos o caso da moça que foi estuprada por mais de trinta pessoas ...

Participante: Essa polêmica atual. Todo dia tem uma polêmica nova.

Me diga uma coisa: todos que ouviram a notícia disseram que ela é uma coitadinha?

Participante: Não. Todos não.

O que aconteceu?

Participante: Teve gente que achou que ela nem foi estuprada.

Teve gente que achou que ela não foi estuprada, outros acha-ram que ela consentiu. Enquanto muitos assumiram a postura de acusar os estupradores, houve pessoas que acharam que ela foi a culpada, que ela procurou.

Em resumo, uns acharam que ela era uma coitadinha, outros que era meia coitadinha, outros que era apenas um pouco coitadi-nha e uns que disseram que ela tinha culpa total. Só nessa pequena mostra das diferentes opiniões formamos vários grupos de pesso-as. Cada um deles está subordinado a uma cabeça do monstro que estamos falando e por isso vão se ferir, se agredirem mutuamente.

É a sua subordinação à verdade, opinião, gerada pelo mons-tro que lhe fará sofrer, pois as cabeças – os grupos de verdades – se digladiam para provar que estão certos. A sua opinião vai fazer você se ferir com a do outro. Não é assim?

Sabem o que aconteceu lá dentro? O que aconteceu lá dentro ... Se não estava lá, você não vai saber. Mas, mesmo que estives-se, também não saberá, porque não estava dentro dela para saber o que ela fez.

Participante: Ou seja, o fato continua sendo o fato. As opiniões é que criam os problemas do mundo ...

As opiniões que são geradas a partir de fatos são as cabe-ças do seu monstro, do sistema humano de vida ao qual está su-bordinado. São elas que irão lhe ferir no final das contas.

A cada informação você toma uma posição, forma uma opi-nião. Com isso está dando mais uma cabeça ao seu monstro.