Adoração

A adoração e a unidade

03. A quem devo oferecer os meus respeitos (quando eu sou Brahman, eu próprio) sempre imaculado? Este mundo é apenas a obra de cinco elementos e na realidade não é mais do que uma miragem. (Avadhut Gita, capítulo 1)

O termo Brahman pode ser entendido como Deus, o ser que possui a capacidade suprema de universalizar as suas propriedades atingindo a compreensão mais pura das coisas universais.

Dattatreya nos afirma que cada um de nós espíritos, em qualquer grau de evolução, é deus por si próprio. Isso também é afirmado na Bíblia Sagrada, quer na Gênesis (“agora façamos o homem a nossa imagem e semelhança”) como por Cristo (“vós sois deuses”).

A diferença entre os seres e Deus não está na constituição, mas sim na compreensão das coisas. Deus é um ser e possui as mesmas propriedades intrínsecas que qualquer outro, mas as utiliza universalmente, para a Justiça Perfeita e com o Amor Sublime. O ser em evolução utiliza essas mesmas propriedades com individualismo.

A partir da constatação da ventura do espírito (ser igual a Deus na constituição), Dattatreya pergunta: a quem devo dirigir, então, os meus respeitos? Isso acontece porque para o ser humano o respeito a Deus é confundido com a idolatria. Deus não quer ser idolatrado, mas sim respeitado de verdade, ou seja, que Suas ações (causa primária) sejam recebidas como ensinamentos de quem possui mais superioridade moral.

A Constituição Universal (amar a Deus sobre todas as coisas) não é originária do desejo individual de Deus ser idolatrado, mas o único caminho para a universalidade. Deus não quer que o amemos porque gosta da fama e quer elogios, mas porque sabe que esse amor (fé) levará à compreensão do faça-se. Essa compreensão proporcionará o fim do dualismo, da individualização das formas, permitindo o ser alcançar a ventura que cada um possui.

Jesus Cristo mostra isso claramente, mas até hoje seus ensinamentos não foram utilizados para atingir a universalidade, mas sim para conquistar a satisfação individual. Quando argüido pelos professores da lei a respeito da prática de atos aos sábados (dia considerado de não ação pelos judeus), respondeu: “se vocês soubessem o que as Escrituras Sagradas querem dizer quando afirmam ‘eu quero que sejam bondosos e não que me ofereçam sacrifícios de animais’, vocês não condenariam os que não têm culpa” (Mateus – 12,7)

A idolatria a Deus não representa bondade, mas satisfação. A verdadeira bondade surge do não julgamento para não chegar a uma acusação. Somente quem conseguir amar a Deus sobre todas as coisas conseguirá ser bondoso realmente.

O amor que prega a Constituição Universal não é pelo Ser Deus, mas por Sua ação. Na verdade o mandamento deveria ser: ame a Causa Primeira do universo, pois só ela pode aplicar a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Somente compreendendo os fundamentos da ação universal, pode o ser alcançar a universalidade completa. Nesse momento ele se integrará ao todo universal e respeitará Deus por Sua ascensão moral e não pela Sua forma.

Dattatreya afirma mais: o ser é sempre imaculado. Como vimos, o ser universal possui uma ventura que se esconde debaixo de camadas de conceitos individualistas (acho). Entretanto, esses conceitos não maculam o ser.

A parábola do filho pródigo ensinada por Cristo é um bom exemplo disso. Por mais que os conceitos levem o ser a ferir a ventura dos outros e a sua própria, Deus jamais guardará mágoa por essa ação. Ele não julga ou pune seus filhos, mas o Seu Amor Sublime Lhe faz agir gerando situações que sirvam de proveito para a elevação de cada um.

A idolatria a Deus O coloca como um Ser Supremo que não permite falhas sem punições. Entretanto, Cristo nos ensinou que Deus perdoa a seus filhos. Portanto, a ação do Pai não pode ser punitiva, mas educadora.

Quando o Ser Supremo comanda uma ação que fere o individualismo do ser humano não está o punindo, mas mostrando o que deve ser mudado. A intenção do Pai não é provocar sofrimentos, mas mostrar o caminho da real felicidade: a universal. A compreensão individualista ferida é o que deve ser alterada para que a universalização chegue. É o ser, que utiliza suas propriedades (inteligência, justiça e amor) buscando apenas a sua satisfação que prefere sofrer ao invés de alterar-se.

Como já vimos, Deus não quer que o ame especificamente, mas que cada um seja feliz. Por isso Deus não deixa que os seres vejam sua ação. Para fugir da idolatria é preciso que o espírito compreenda ação de Deus sem comprovações materiais da Sua autoria. Por isso o Ser Supremo do universo utiliza instrumentos para causar primeiramente as ações do universo.

Esses instrumentos são os cinco elementos que Dattatreya fala no ensinamento: terra, fogo, água, ar e éter (espaço celeste). Deus causa a ação de cada elemento para que o espírito possa comprovar que é capaz de ver nela a Causa Primária.

Esses elementos são compostos por formas que representam a intenção de Deus ao causar o acontecimento. É por isso que Dattatreya diz que são apenas miragens. Quando o ser compreender que eles nada mais são do que instrumentos de Deus, buscará entender o Amor Sublime que causou o acontecimento através do elemento e, assim, poderá evoluir.