A humildade e a grandeza de Cristo - Carta aos Filipenses

A verdadeira justiça

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Finalmente meus irmãos, que o Senhor lhes dê muita alegria. Não me aborreço de escrever, repetindo o que já escrevi, pois isso é até segurança para vocês. Cuidado com os que fazem coisas más, aqueles cachorros, que insistem em cortar o corpo! Porque os que receberam a verdadeira circuncisão fomos nós, e não eles. Pois adoramos a Deus pelo seu Espírito e nos alegramos na vida que temos em união com Cristo Jesus.

Já falamos disso.

Havia alguns apóstolos que achavam que como Jesus tinha dito que tinha vindo para trazer a notícia para os judeus, quem não pertencesse a esse povo, para ser cristão, teria que se transformar primeiro em judeu. Para isso teria que assumir a marca do judeu: fazer a circuncisão, tirar a capinha.

Já Paulo dizia que não era necessário transforma-se em judeu, pois Cristo veio para todos judeus e não judeus. Isso gerou uma discussão muito grande entre Paulo e os apóstolos e quem estava no meio era Pedro. Ele não sabia que lado iria dar certo, por isso não sabia se seguia a Paulo ou os outros.

No final os demais apóstolos encostaram Pedro na parede e falaram: ‘agora não vai fazer igual na crucificação e negar Cristo outra vez’. Isso fez com que Pedro ficasse do lado dos judeus,

Como já estudamos, a missão de Pedro não deu certo. Digo isso porque ele era o apóstolo que teria que levar Cristo aos judeus e até hoje as pessoas desse povo não aceitam Cristo. Já Paulo foi o apóstolo que iria levar Cristo aos não judeus e os não judeus aceitam Cristo.

É dessa história que Paulo está falando. Ele diz que não precisa de fatores externos para ser cristão. Não precisa de rituais, marcas, carregar cruz pendurada no pescoço, rosário na mão. Cristo não está no seu exterior, mas no seu interior. Da mesma forma para ser um monge budista, não precisa colocar roupa vermelha e raspar a cabeça. Buda está no interior e não no exterior.

Quem quer copiar o exterior na verdade não está copiando nada, porque Cristo, Buda, Krishna não viveram para fora mas para dentro do ser humano. É isso que precisamos entender.

Você pode, vamos dizer assim, usar roupas chamadas de indecentes a vontade; se tiver Cristo no coração nada vai perturbar a sua elevação espiritual. Você pode andar todo arrumadinho, mas se tiver ódio, ganância, vingança, julgamento, justiça própria, amor próprio, dentro do coração, está longe, afastado do Cristo.

e não temos nenhuma confiança nas cerimônias externas.

Além de não concordar com a necessidade de marcas no corpo, Paulo também não tem confiança nas cerimônias externas. Ou seja, para ele você não precisa ir a uma missa, um trabalho de umbanda, ir ao centro espírita para encontrar Deus através daqueles aparatos, daqueles rituais. Isso porque Deus está dentro de você.

Na verdade o ser humanizado procura Deus fora, mas o Pai está escondido dentro dele. Por isso, o ser humanizado precisa mergulhar dentro de si mesmo, precisa voltar-se para si, ou seja, mergulhar nos seus pensamentos e sentimentos para ver se aqueles pensamentos espelham uma verdade universal e se aqueles sentimentos condizem com o amor universal.

Este é o caminho. E é por isso que nós demos um caminho bem prático: pergunte a Deus o que ele acha de seus pensamentos. ‘Aquela pessoa não presta? Deus o que você acha de eu pensar isso desta pessoa? Deus, não estou gostando do que está acontecendo. Deus o que você acha de eu não estar gostando do que está acontecendo’? Faça este mergulho dentro de você.

Deixem-me deixar uma frase bem clara: viver não é uma atividade física, mas uma atividade mental, espiritual. Não adianta nada se preocupar com o que faz, porque viver não é fazer materialmente, mas ter uma atividade mental. Você vive formando pensamentos e não fazendo ação. Falo isso porque a partir do momento que pensa uma coisa, sua ação não poderá sair contrária ao que está pensando. Na hora que entender isso e parar de querer dominar o que faz e começar a dominar o que pensa, vai começar a aprender a viver.

Isto é fundamental para aquele que quer buscar a elevação espiritual: entender que não se pode viver externamente, mas que a vida acontece internamente. O externo é apenas um reflexo da vida interna.

Participante: tem um ditado popular que diz que é o hábito que faz o monge. Será que o povo está muito longe da religação?

Quando digo que a vida é uma questão mental, lhe digo que existem duas formas de viver: a vida mental universal e a vida mental individual. Como é cada uma dessas vidas?

A vida mental universal existem quando todos os pensamentos são universais. É o serviço ao próximo sem intenção. A vida mental ou espiritual individual acontece quando as suas formações mentais são baseadas no que você quer, no que gosta, no que deseja, no que acha.

O que é preciso é mudar o sentido da vida e não mudar os detalhes da vida. Vou dar um exemplo. Você jamais vai deixar de viver com a sua casa como sendo sua propriedade. Se quiser exterminar essa verdade, lutar contra essa intenção, não vai conseguir vencer. Isso porque tudo nasce da semente do individualismo.

Se para evoluir imaginar que precisa abandonar a beleza física querendo lutar contra os pensamentos que falam disso, não vai conseguir nada. Isso porque o individualismo estará agindo nos pensamentos.

Por isso repito: a reforma íntima ou a luta para a elevação espiritual é lutar contra o individualismo e não contra os frutos dele. Se isso é verdade, a humanidade não está longe de conseguir viver em paz. Isso porque ela não vai ter que derrotar tantos inimigos quanto pensa, mas terá que derrotar um único inimigo: o eu.

Os seres encarnados não terão que derrotar a vontade de estar belo, mas sim o Eu. Não terá que derrotar a vontade de ganhar dinheiro, terá que derrotar o eu. Ela não vai ter que vencer a vontade de ganhar, mas sim o eu.

Na verdade, tudo se resume em derrotar o eu. Derrotar o ego, a intenção, ou melhor, a intenção de ter intenção ao invés de ficar lutando contra cada uma das intenções.

Acho que agora fica mais claro: não se trata de derrotar as intenções, mas sim a intenção de ter intenção.

Participante: para estarmos vinte quatro horas no espírito, precisamos sempre estar na sala ouvindo o senhor, para encontrarmos força, pois a luta é grande. Aprendi a me recolher quando estou por demais ansiosa e impaciente. Tem resolvido um pouco porque tem me poupado a exposição e poupado também o estresse daquelas pessoas que nada tem a ver com os nossos problemas e acabam pagando por isso. A angústia acaba passando, mas fico com receio se não vou somatizar depois. Estou fazendo yoga e natação o que tem me ajudado a descontrair. É por aí?

Se isso está lhe descontraindo, faça. Agora, não espere que isso vai lhe descontrair sempre. Não dê a causa primária de sua descontração à yoga ou à natação. Na verdade, você poderia estar fazendo yoga e natação e se a Causa Primária não causasse a descontração, esses elementos jamais poderiam fazer isso por você. Este é o primeiro aspecto.

Segundo aspecto. Tenho uma grande notícia para lhe dar: eu não estou nessa sala.

Você disse que para colocar em prática o que falo seria preciso que estivesse aqui comigo, mas eu não estou na sala. Eu estou no universo. Dessa forma, eu estou ao seu lado vinte e quatro horas por dia ...

Mas, como vai me achar no universo? Prestando atenção no seu pensamento e perguntando a si: ‘o que Joaquim ensinaria nessa hora? O que Joaquim falaria nessa hora? Qual teria sido o ensinamento do Cristo para essa hora? Qual teria sido o ensinamento de Deus’?

Veja: é preciso levar a sala dentro de você vinte e quatro horas por dia para estar dentro dela nesse período. Foi isso que quis lhe dizer outro dia. Por isso, lhe aconselho: coloque Deus dentro de você e deixe o deus yoga e natação pra lá.

Participante: acho que é uma questão, enquanto a gente não consegue totalmente, de treinamento, não é? Ir treinando, treinando, faz, cai, levanta...

Perfeito. Só não pode idolatrar–se quando conseguir. Se fizer isso, não aprendeu nada, aquele momento não serviu de nada. Ficou claro?

Participante: tenho feito isso; as vezes funciona e outras não, mas eu sei que preciso ter esta sala dentro de mim. Obrigada. Muito bem respondido.

Isso.

Os ensinamentos as vezes funcionam e outras não. Isso é normal, pois ainda não está encarnada para se regenerar. Esse mundo ainda não é de regeneração, ou seja, de mudança completa. Esse é um mundo de provação. Por isso, tem momentos que consegue provar e outros que não.

Como já disse, estamos agora fazendo prova final e quem tirar cinco nessa encarnação fica. Não é preciso tirar dez. Por isso, na hora que conseguir, maravilha; na hora que não, maravilha também. Deixa para lá: o que passou, passou. Não fique arrastando o passado para o presente.

Participante: é verdade, mas as vezes, a maior tarefa é superarmos a nós mesmos. O senhor não acha?

Sim, a maior tarefa é superar si mesmo mas vamos entender isso, pois você não é você.

Você acha que é um ser humano, acha que é o que o ego diz que é. Por isso, quando se fala de vencer a si mesmo, na verdade não estamos falando do espírito vencer a si mesmo, mas sim a personalidade criada pelo seu ego que você acha que é você.

Isso se chama Elevação Espiritual. Ela acontece quando você luta contra si mesmo. Contra aquilo que você acha que é. Aí se vence esse personagem.

Qual é seu nome?

Participante: Gabriel.

O seu ego ou quem você acha que é chama-se Gabriel. Ele não é você. O Gabriel é quem você tem que vencer. Digo isso porque você é um espírito sem nome, sem cor, sexo, idade, religião, sem nada disso. O Gabriel, o personagem que você espírito criou para viver esta vida e que possui todas essas coisas é o que precisa ser vencido.

Portanto, começa dizendo para si: eu sou um espírito; eu não sou o Gabriel.

É claro que eu podia pôr a minha confiança nessas coisas. Se alguém pensa que pode confiar nas cerimônias externas, eu tenho ainda mais motivos de pensar assim. Fui circuncidado quando tinha oito dias de vida. Sou israelita de nascimento, da tribo de Benjamim, de puro sangue hebreu. Quanto à prática da lei dos judeus, eu era fariseu. E tão fanático, que persegui a Igreja.

Mestre, ele era mestre, professor da lei.

Quanto à justiça que se alcança pela obediência aos mandamentos da lei, ninguém podia me acusar de nada. Mas por amor a Cristo, todas estas coisas que eu considerava como lucro agora considero como perda.

Vamos então entender isso. Quais são os lucros que Paulo fala? Ser israelita da tribo de Benjamin. Essa é a primeira coisa que Paulo considerava lucro.

O que quer dizer isso para nós hoje? Porque Paulo não considerava isso mais lucro? Como podemos entender essa questão nos dias de hoje? O que era ser judeu israelita de nascimento da tribo de Benjamin? O que representava isso na época? Pertencer a uma raça.

Paulo diz que era glória, lucro, pertencer a uma raça dominante. Só que quando se une em Cristo, isso perde o valor. Raça não existe para espírito.

‘Sou brasileiro, graças a Deus’. Mas, você não é brasileiro, não é nem terrestre. Você é universal, é um espírito. Por isso se vangloriar, ter patriotismo, é viver contra o mundo espiritual.

Quantos saem deste país para ir para outro porque querem pertencer a uma raça superior, onde possam possuir mais dinheiro, ter mais possibilidades de crescimento, onde haja menos problemas de assalto e acham que isso é lucro para eles. Só que o único lucro para um cristão é estar unido com Cristo. Isto é lucratividade para um espírito.

Não se trata nem de ir para um país onde haja mais religiosidade. Muitos vão para os Estados Unidos atrás de dinheiro, outros vão para o Japão, para o Tibet, para pertencer a raças espirituais mais elevadas. Esses se dizem melhores do que os ouros, mais espiritualizados, mas isso não é real. Não é lucro nenhum ir morar com os monges no Tibet. Lucro mesmo é ter o sentimento de Buda e Krishna dentro de seu coração. Isto é lucro.

Esta é a primeira coisa que Paulo considerava lucro, mas que descobriu que era prejuízo. Qual a segunda? ‘Quanto à pratica da lei dos judeus eu era fariseu tão fanático que perseguia a igreja’. O fanatismo durante a prática da lei religiosa, pelas verdades que a sua religião lhe impõe.

Muita gente acha lucro seguir as leis religiosas: não comer carne na sexta-feira santa, obedecer à quaresma, não ir a centro de umbanda porque o espiritismo diz que preto velho não existe, etc. Essa prática religiosa, esse fanatismo por uma religião, não é lucro para o espírito, pois existe uma única religião no universo: Deus. Esse tem que ser o fanatismo de um ser encarnado.

Só que é preciso prestar atenção a que Deus se fanatizar: aquele que ensinaram os mestres ou aquele que as religiões ensinam. O primeiro é o Senhor do Amor, o segundo é o legislador que cria leis e obrigações para poder ser recebido no reino do céu.

Quando você se fanatiza pelo Deus dos mestres, aquele que ama a todos como a si mesmo, a primeira coisa que você perde é a existência de leis que obriguem a isso ou aquilo. Isso porque Deus não tem lei. Ele não precisa de leis para regular nada no universo: Ele é a própria lei. Ele é a regulamentação do universo.

Portanto, Deus não tem lei. Ele regulamenta a cada instante o universo e faz isso dando aquilo que cada um merece.

A partir disso podemos compreender que não é proibido matar, porque tem gente que precisa levar um tiro para receber o que merece. Quando isso acontece, Deus não quebrou lei alguma: fez a lei funcionar.

Morrer baleado não se constitui em problema algum no universo. O problema é achar que uma pessoa matou outra. Quando você acha isso, está ferindo uma lei. Qual? A do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Por isso, quando aceita a ideia de que Deus desencarnou quem precisava e merecia ser desencarnado e não julga o instrumento do desencarne, não quebra lei nenhuma.

Participante: o senhor nos falou em outra palestra para nós não merecermos e nos tornarmos instrumentos dessa morte.

Sim, mas isso é outra coisa. Eu estou querendo analisar o ato em si agora.

O ato de matar não pode ferir a lei, porque não há assassinato. O que existe é cada um recebendo aquilo que precisa e merece. É a lei do carma em ação. Por isso diria que uma pessoa não foi assassinada, mas “carmada”. O carma daquele espírito foi colocado em ação.

Por isso Paulo diz: eu achava uma glória muito grande, um lucro muito grande, aplicar a lei – ‘você é um assassino, não presta, é um safado, tem que apanhar, tem que morrer – mas hoje, quando me uni com Cristo não penso mais da mesma forma. Agora apenas digo ao bandido: se você se arrepender, ainda hoje estará no reino do céu.

É essa a diferença entre o lucro que o Paulo via e o que aprendeu. Agora ele não era mais obrigado a acusar a criticar o assassino, a julgar e condenar o assassino. Ele estava liberto da prisão da lei. Este foi o grande lucro que teve quando se uniu a Cristo.

Qual outro lucro que ele achava que tinha? O fato de ter sido circundado.

Ele achava um grande lucro ser circuncidado, pois isso era uma prova da sua religiosidade. Achava uma glória carregar no corpo a marca da sua religião. A mesma coisa que acontece com o católico que carrega o crucifixo como uma medalha; assim como os devotos de Nossa Senhora que carregam a imagem dela no cordão; assim como os filhos de Xangô, Ogum e Oxossi que carregam as figuras da entidade ou suas guias. Mas, como Paulo descobriu, isso não é glória nenhuma. É muito fácil carregar imagens como esses fazem: basta ter pescoço.

A grande vantagem nessa vida é se unir com Cristo, ou seja, carregar o Amor ensinado pelo mestre dentro de você. O que era orgulho para o Paulo, carregar no corpo a marca da sua religião, ele descobriu que era besteira e que o grande orgulho da sua vida era carregar Cristo no coração. Era ter o Amor no coração.

Isto nos leva a pensar muito. De que nos orgulhamos? Quantos se orgulham de ser homem macho, nunca dormiram com outro homem? Quantos se orgulham de ter estudado, de ter uma escola, e por isso praticamente carregam o diploma na testa. O médico, por orgulho de suas conquistas, exige que seja chamado de doutor para distingui-lo dos outros. Isso é como se fosse a circuncisão. Quantos se orgulham de seu país, o Brasil, ser a pátria do evangelho. O evangelho é do mundo, não do Brasil.

E vocês, do que se orgulham nesta vida? Realizações materiais. De ter um trabalho, de ter gerado filho, de dar comida para bicho, de dar refeição para pobre ...

Pergunto a vocês: e Cristo dentro do coração, quando chegará?

Sim, isso deveria ser a primeira preocupação de vocês, pois esse é o verdadeiro orgulho que um cristão deve ter. Como Paulo cansa de falar: eu tenho Cristo no meu coração. Esse tem que ser o motivo de orgulho para um espírito, não os fatores externos, sejam quais forem. O fator externo não pode ser motivo de orgulho, senão vira soberba.

A única coisa que o espírito tem que se preocupar e se gloriar é de trazer Cristo, o amor, no seu próprio coração. É claro que coração é sintaxe, é figura; estou falando de trazer o amor dentro de si.

Participante: isso que o senhor está falando é muita loucura. Pai, sinceramente tem coisa que não entra na minha cabeça. O que é isso? Uma pessoa então mata e não é errado. Só porque a pessoa que morrer era para ter desencarnado. Credo. E quando os mandamentos dizem não matarás, como é que fica?

Primeiro: ninguém morre. Sendo assim, afirmar não matarás, já é uma inverdade, pois não há morte. Começa por aí.

Segundo: o universo é movido pelo carma. Na literatura espírita vocês aceitam que aquela pessoa mate outra por uma ação carmática, até por amor. Acreditam que quem desencarnou precisava morrer daquele jeito. Só que na vida humana não aceitam. Porque isso? Porque são espíritas de papel.

Ninguém é punido por dar um tiro que encerra com a encarnação do outro. Ninguém é punido por fazer isso porque nenhuma encarnação se encerra sem que Deus faça ela se encerrar. Por isso, se aquele espírito desencarnou, na verdade, foi Deus quem promoveu o desencarne. Esta é a questão.

Deus gerou o desencarne, por isso o assassino não merece ser punido. No entanto, ele não escapa do seu carma. Todo mundo que mata alguém, se transformar num assassino, vive uma existência diferente dos outros. Isso não é punição, mas carma porque aquele ser não tinha Cristo no seu coração.

Colocando em outras palavras para ficar mais claro: o escândalo é necessário, mas ai daquele que sirva de instrumento para o escândalo.

Portanto, é preciso que aquele espírito receba uma bala. Um outro enviará o projétil contra ele justificando, materializando, assim o desencarne que Deus promoveu. Quem enviou a bala conseguiu esse papel no teatro da vida porque não tinha amor no coração. Na hora que todos amarem a todos, ninguém merecerá receber tiro e ninguém o dará. Mas, enquanto o ser humanizado não matar por obrigação, por medo da consequência, mas nutrindo dentro de si o desejo de matar, mostra que não tem Cristo no coração. Por isso, a sua não prática dessa ação de nada adianta.

Participante: o senhor disse que é uma inverdade a frase não matarás. Sendo inverdade, quer dizer que o não matarás não faz parte dos dez mandamentos? Qual é o sentido, então, do não matarás na lei de Moisés?

Vamos entender isso.

Não matarás é uma inverdade. Primeiro porque ninguém é morto, já que o espírito vive eternamente e o humano não está vivo universalmente falando, ele não existe no universo. Segundo porque é uma lei e como já vimos a lei cria o pecado, por isso Deus aceita o ser pela fé e não pelo cumprimento do código legislativo.

Sempre que se cria uma lei, gera-se um pecado. Se a lei não matarás é verdadeira, isso quer dizer que matar é um pecado. Ora, se é Deus quem mata, como já estudamos em O Livro dos Espíritos, isso quer dizer que foi Ele que pecou? É essa incongruência que precisamos estar atento quando nos apegamos a conceitos.

Na verdade, Cristo quando foi perguntado sobre as leis que estão no Velho Testamento, ele disse: eu não vim para destruir a lei, mas dar o real sentido da lei.

Qual é o real sentido de não matarás? Vamos entender isso.

Em uma palestra perguntei para um advogado: a lei é criada para que? Para defender alguma coisa. Sendo assim, a lei não matarás foi criada para defender a vida e não para punir quem mata. A punição é uma consequência para quem não defende a vida

Participante: o senhor está complicando.

Não, eu não estou complicando. É preciso entender isso, porque senão vamos dizer que está escrito na Bíblia não matarás e que isso precisa ser feito. Não é isto. É preciso entendermos que não matarás quer dizer defenda a vida.

A lei tem uma essência e a essência dessa é proteger a vida. E este é o real sentido da lei que o Cristo veio trazer

Participante: que vida?

Qualquer uma. A vida material, a espiritual, a felicidade. Vida é felicidade

Participante: não consigo entender. Acho que o senhor complicou muito.

Esquece “que vida?” Tente entender que a lei não é para punir quem mata, mas sim defender a vida. Quem defende a vida não mata.

Entendendo isso, pode compreender o sentido dessa lei que Cristo trouxe. Ele disse: ao invés de se preocupar em não matar, preocupe-se em defender a vida. Como se defende uma vida? Amando a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aliás, quem não ama a Deus acima todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, já infringiu a lei, mesmo que não mate.

Portanto, a lei não é não matar, mas sim amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Vivendo assim, estará defendendo vidas e com isso estará cumprindo a essência da lei.

Agora quando você acusa o outro, quando chama o outro de assassino, diz que ele não presta, que é um monstro, está amando-o?

Participante: não é essa a questão. A questão é que o mandamento diz: não matarás. Eu não consigo entender esta explicação que o senhor está dando.

Continuamos conversando ...

Vamos entender o que é matar. Será que matamos a pessoa apenas lhe ferindo fisicamente? Não. Já conversamos sobre isso: você mata uma pessoa quando você a acusa, quando a ofende. Digo isso porque tira a paz de espírito, que é a verdadeira vida.

Você se apega ao não matarás porque acha que está vivendo uma vida. A encarnação não é uma vida. A vida do espírito não tem nada a ver com o que acontece numa encarnação.

Você continuará presa ao não matarás, ao não tirar a existência de uma carne, porque acha que estar na carne é uma vida. Mas, isso não é real.

Participante: então, resuma, por favor, o real sentido de não matarás em poucas palavras.

Ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Acabei de resumir o Não Matarás.

Participante: e aí você não mata?

Não sei. Mas, se matar, mas tenho a certeza que se isso acontecer, não vou me acusar, me atacar. Também tenho a certeza que se fizer isso, não vou acusar nem atacar outro que tenha matado. Com isso, não estarei matando-o.

Para poder compreender o que disse, a primeira coisa é parar de pensar que promover o desencarne é matar alguém, porque não é. Quem tira a paz do próximo com acusações e críticas também está matando. Por isso, quando você critica o assassino se torna em um. E diz que faz isso porque ele quebrou a lei. E você, não?

O que precisamos fazer é se desviar da ideia preconcebida, deste conceito de que você está na carne, que está vivo.

Mas por amor a Cristo, todas estas coisas que eu considerava como lucro agora considero como perda. E não somente essas coisas, mas considero tudo como completa perda, por causa daquilo que tem muito mais valor, o conhecimento de Cristo Jesus, o meu Senhor. 3,8

Só relembrando, Paulo está falando das coisas materiais. Ele considera todas as coisas materiais que você recebe como absoluta perda. Ele não se vangloria de receber coisas materiais, porque a única coisa que tem valor é receber de Jesus Cristo o amor. É isto que Paulo está falando.

Por causa dele joguei tudo fora. Considero tudo isso somente como lixo, para que eu possa ganhar a Cristo e estar completamente unido com ele.

Paulo um dia deu um valor para as coisas materiais, mas agora que encontrou Cristo, as coisas materiais são lixo se comparadas às espirituais. Isso quer dizer que nós não podemos valorizar as coisas deste mundo porque elas têm fim certo, fim marcado. Por isso essas coisas para o espírito, não têm valor. O que têm valor para o espírito são as coisas espirituais.

Como já dissemos, as coisas espirituais são sentimentos. Isso é o que tem valor para o espírito. Para o ser universal tem valor o amor, o carinho, uma amizade, um abraço sincero. Não a coisa material.

Para o espírito a posse, a casa, a família não tem valor algum, porque tudo isto acaba com a morte. Só aquilo que vai além da morte, que são os sentimentos, tem valor para o espírito.

Para o espírito é muito mais importante a felicidade do que a realização de desejos. Para o espírito é muito mais importante a paz do que a conquista. Para o espírito é muito mais importante a harmonia com o universo do que o vencer. É isto que Paulo está nos ensinando.

Por causa dele joguei tudo fora, considero tudo isso somente como lixo, para que eu possa ganhar a Cristo e estar completamente unido com ele. Eu não procuro mais ser justo por meio da minha obediência à lei. Agora tenho a justiça que é dada por meio da fé em Cristo; a justiça que vem de Deus e é baseada na fé.

Qual é a diferença entre a justiça oriunda da lei e a da fé?

Participante: a lei se segue por temor; Cristo se segue por amor. Acho que é isso.

Não é só isso.

A justiça dele não é mais dada pela lei, mas pela fé em Cristo. O que ele quer dizer com isto?

Participante: a fé é o ensinamento que Cristo deixou, ou seja, o amor ao próximo ...

Sim, mas porque ele não segue mais a lei?

Participante: porque a lei é uma obrigação...

Não é só isto.

Ele não segue mais a lei porque por ela, por exemplo, ele é obrigado a acusar quem mata como assassino. Pelo amor a todos, o ser não é obrigado a julgar ou acusar ninguém mesmo quem assassine. Essa é a diferença.

Quando você se baseia na lei, no certo e no errado, no bonito e feio, no limpo e sujo, é obrigado a acusar, a brigar, a punir. Quando abandona a lei vive no amor, no amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não se pune nem se julga ninguém, pois não há mais certo nem errado. O que existe é apenas o amor em ação.

Por isso, quando usa a justiça oriunda da fé não vê mais uma pessoa errada. Por isso, não a julga. É a frase de Jesus Cristo na hora da cruz: Pai perdoa porque eles não sabem o que fazem.

Os romanos e os judeus estavam condenando injustamente Jesus Cristo, estavam machucando-o injustamente, caluniando, difamando. Só que por só ter amor e não lei, o mestre não acusava, não criticava, não julgava, não apenava. Compreendeu?

Já quem fica preso à lei é obrigado a julgar, condenar, a fazer tudo isso. Porque a lei diz, não faça. Se fez, tem que acusar.

Volto a dizer: não estou dando liberdade para ninguém matar. O que estou falando é que quando a sua justiça é baseada na fé, você não mais o condena por ser assassino.

Tudo o que eu quero é conhecer a Cristo e ter a experiência do poder da sua ressurreição.

Experiência do poder da sua ressurreição, o que quer dizer isso?

A ressurreição é a vida de espírito com a consciência espiritual. O poder desta vida: é isso que Paulo quer experimentar.

Você, que está desligado de Cristo, conhece o poder da vida material. Conhece o que seus olhos veem, suas mãos tocam, sua boca prova, o que p seu pensamento forma como vida. Não esse poder que Paulo quer ter. Ele quer conhecer o poder da outra vida. Da vida onde os olhos não veem, onde a mão não pega, o nariz não cheira. Ele quer o poder do mundo real e não desse mundo criado fantasiosamente nos seus pensamentos.

Quero também tomar parte nos seus sofrimentos e me tornar como ele na sua morte, na esperança de que eu mesmo seja ressuscitado da morte para a vida.

Mas vocês, que se dizem cristãos, a primeira coisa que fazem é fugir do sofrimento, não querer passar por estas situações. Só que para atingir a ressurreição há a obrigatoriedade de se passar pelo sofrimento do Cristo.

Não estou falando que vocês precisam sofrer. Como já ensinamos antes, não é necessário sofrer, mas tem que passar pelo sofrimento.

Eu já ensinei: a vida é formada de altos e baixos. Tem hora que tudo está muito bom; tem hora que tudo está muito mal. Kardec chama isso de vicissitudes. Você precisa passar por estas situações, pois esse é um dos objetivos da encarnação, ou seja, você nasce para isso. Para passar por essas alternâncias de situações.

Agora, não precisa passar por elas, acompanhando-as. Pode passar de forma reta. Ou seja quando estiver no alto, não se exultar de prazer; quando estiver no baixo, não sofrer o sofrimento. Estamos falando de um estado de espírito constante onde você tem uma felicidade incondicional.

É isso que Paulo está dizendo. ‘Eu quero passar pelos sofrimentos de Cristo, ou seja, passar pela minha descida na vida e não querer que ela aconteça apenas em cima’. Até porque viver só no fausto não tem graça. Se a vida fosse só de prazer não tinha graça.