Relacionamentos

A ação do sistema humano de vida

Participante: podemos falar de um problema? Na verdade não é um problema que encaro com grande seriedade. Estou tendo muito mais curiosidade para entender do que buscando ajuda para não sofrer. Trata-se da relação com minha mãe. Ela me acusa de ser frio no nosso relacionamento e realmente sou. Gostaria de saber porque sou assim. Sei que isso não é coisa dessa vida, porque não teria motivos para relacionar-me com ela assim. Ela chora, acusa que não a amo, etc.

E daí? Ela não é a única pessoa nesse mundo com a qual se relaciona de uma forma fria. É frio com ela, mas também é com outras pessoas. Porque lhe incomoda ser frio com ela e com outros não?

Participante: não sei. Acho que é porque ela me cobra isso.

Outras pessoas cobram outras coisas e você não sofre com esta cobrança. Porque a cobrança dela lhe faz sofrer?

A conversa ficou séria, não? Achou que íamos conversar levianamente, mas nos dias de hoje não dá mais para isso. Não é mais época de se passar a mão na cabeça ou fazer conversas sem importância. Além do mais, acho que isso não lhe ajudaria em nada.

Poderia falar de coisas de outras vidas e você iria embora tranquilo, mas se agisse dessa forma não teria lhe ajudado. Eu quero lhe ajudar de tal forma que no dia que não estiver mais aqui você possa se virar sozinho para estancar o seu sofrimento.

Por isso lhe pergunto: porque outras pessoas cobram atitudes e você não fica chateado e com a sua mãe fica?

Participante: isso é algo que não saberia lhe dizer.

É tão simples, tão fácil de se entender isso: porque ela é sua mãe.

Sendo frio com outras pessoas e quando elas cobram que não seja dessa forma não sofre, mas com a cobrança dela sim, qual a diferença? É que uma cobrança é feita por uma pessoa qualquer enquanto que a outra é pela sua mãe.

O nosso assunto começa por aqui. Quem disse que você é obrigado a ser quente, que é o contrário de ser frio, no relacionamento com qualquer pessoa, principalmente com a sua mãe?

Participante: eu mesmo ...

Não. Você não. Quem disse?

Participante: a mente.

Certo, mas quem disse para a mente que deve agir dessa ou daquela forma? Quem disse que filho deve ter um relacionamento quente com a mãe? Hábitos, costumes, regras, o sistema humano de vida.

É o sistema humano de vida que a sua mente usa para lhe dizer que o certo seria agir de forma quente com sua mãe, com seu pai, com seus irmãos, com seus parentes de uma forma geral. Concorda comigo?

Participante: sim ...

Não é você que quer ser quente com ela. Não é você que acha que é importante ter um relacionamento desse tipo com ela. Na verdade está apenas seguindo uma norma, uma regra, uma lei humana que diz que todo filho tem que ter carinho com a mãe, respeito por ela. Tem que ter uma série de atitudes para com ela.

Não é um sentimento seu. Isso é algo que vamos estar falando muito. Não é um sentimento seu, mas uma subserviência à regra humana.

Vocês confundem muito as coisas. Imaginam que acham ou sabem alguma coisa, mas isso é irreal. Tudo que a sua mente acha e sabe é fruto da utilização de uma regra humana que diz que o certo é agir de uma determinada forma, quando na verdade não existe nem certo nem errado.

Portanto, não existe a obrigação de um filho agir de determinado modo com os pais. Isso é algo imposto pela sociedade humana, pelo mundo humano, pelo sistema humano de vida. Esse é o primeiro ponto que você tem que pensar.

Nada é obrigatório. Enquanto achar que é obrigação, sentir-se-á estranho, irá querer se mudar, mas como Krishna ensina, ninguém age diferente da sua própria personalidade, do seu jeito de ser. Portanto, não pode ser do jeito que imagina que deveria ser e por isso sofre. Mas, não precisa ser desse jeito.

Para se viver com estas cobranças de uma forma feliz é preciso separar o ser humanizado em dois: você e a sua mente. Você é você, algo que não sabe o que é. O resto é sua mente, é aquilo que cria as coisas deste mundo.

Mas, o que baseia a sua mente na ação, porque ela fala desse ou daquele jeito? Porque foi ensinada a ser assim. Não pelo seu pai ou pela sua mãe, mas pelo sistema humano de vida, pela propaganda que esse sistema faz de si mesmo.

Você abre um livro e vê um filho abraçado com a mãe, dando e recebendo muito carinho. Aí não consegue ser desse jeito e sofre. Ou ainda, uma mãe abre um livro e vê um filho abraçado com a sua progenitora quando não tem isso em casa. Na mesma hora se pergunta: ‘porque o meu filho não é assim? Onde foi que eu errei’?

Esse é o primeiro ponto que precisa ter em mente para acabar com os problemas da sua vida: você não precisa ser diferente do que é. Na hora que se conscientizar disso, sabe o que acontece? Pode ser o que é sem sofrer.

Na verdade, você não sofre porque não é quente com a sua mãe, mas porque acha que deveria ser. Isso vale para tudo nessa vida. Para conseguir essa vivência é preciso separar a mente de você e saber que ela não funciona porque você acha ou quer alguma coisa, mas ela reage à norma e leis humanas.

Esse é o primeiro detalhe de nossa conversa.