Dia chuvoso
na grande Florianópolis, após o café da manhã procuro algo para fazer, O que
não é possível ao ar livre. Vou na estante e pego o primeiro livro que as mãos
alcançam. É um exemplar contendo as revistas espíritas do ano de 1858 onde Kardec
tem alguns diálogos publicados em seções mediúnicas realizadas na Sociedade
Espírita por ele fundada em Paris naquele ano.
Um deles que
está na página 188 da Edicel, traduzida por Júlio Abreu Filho, a entrevista é
com o desencarnado em novembro daquele ano, o Sr. Badet, que era um frequentador
das seções quando na terra. A viúva
Badet havia comentado que teria visto sua imagem na vidraça do apartamento em
que residiam, e foi então que Kardec invocou sua manifestação.
Na sétima
pergunta ao entrevistado, tem uma detalhe interessante, que também é revelado
na questão 23 de O Livro dos Espíritos, quando fala que "para nós humanos
o espírito é nada". Perguntaram assim ao errante Sr. Badet "
Ultimamente disseram-nos que os espíritos não têm olhos. Ora, se essa imagem é
a reprodução do perispírito, como foi possível reproduzir os órgãos da visão? -
O perispírito não é o espírito: a aparência, ou perispírito, tem olhos, mas o
espírito não o tem. Bem que vos disse, falando de perispírito, que eu estava
vivo". Ou seja, sentindo-se humano sem carne.
Quem vê o
espírito de quem?
O que o
"médium viu" não é o espírito portanto, e sim o corpo que Kardec
chama de perispírito, outros chamam de fantasma, ou ainda alma
penada...portanto matéria, pois deriva do fluido cósmico universal, invisível
por estar em dimensão diferente da matéria densa, e é visto por quem possui a
faculdade específica.
Quando na
questão 23 acima citada, o Espírito da Verdade diz "o espírito para vós é
nada", esta dizendo, existem consciências distintas, a que assumimos ao
reencarnar, que irá encerrar quando desumanizarmos ou seja, quando conseguirmos
abandonar as posses humanas, e assumir nossa verdadeira identidade espiritual
eterna, essa que não tem forma. Paralelo temos a consciência temporária
programada para a realização de missão, provas e expiação, que mantém a
consciência espiritual sob o véu do esquecimento.
Essa
desumanização, é o processo de despossuir verdades e crenças, a dependência da
matéria, (o humano é matéria), tornando-se um com Deus. Este é processo a ser
feito na terra, para ter validade, para ser considerado mérito, evolução
espiritual, ao contrário do que muitos pensam, de que evolução espiritual é
cultura espiritual, é ser bonzinho nos padrões humanos, é dar cesta básica...
Isso levou Paulo a dizer em suas cartas, que o ser humano é o inimigo de Deus,
não o ser em si, mas a sua humanidade, carregada de saber, verdades e autoria
das ações, os deuses de suas realizações, e só existe um Deus, ou seja a inteligência
suprema, a causa primaria de todas as coisas. Se este processo tiver que ser
realizado após um longo período de teimosia em permanecer humano após o
desencarne, o que ocorre com frequência, querendo cuidar da casa, dos filhos,
do marido, vingar-se de algo que não perdoou enquanto encarnado, sofrerá até
pedir ajuda, e em sendo socorrido os "engenheiros siderais" farão de
forma automática a remoção da consciência do último personagem, que ficará em
espírito, sem forma (sem olho) como acima citou na entrevista o Sr. Badet,
aguardando a oportunidade de reencarnar-se, vestindo um "aparelho" de
acordo com o mundo que ira habitar, segundo as suas necessidades evolutivas,
diz a questão 132 de O Livro dos Espíritos.
Esta
reflexão, nos alerta para a necessidade de doar as nossos posses amando a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Não falo de doar sua
casa, seu carro, seu filho, mas de viver consciente de que nada é seu, que tudo
a Deus pertence e disponibiliza de acordo com a trama que foi elaborada para as
suas provas e missão. Uma das posses mais difíceis que o ser humano tem a
realizar, são suas verdades, seu saber. Nosso saber é relativo. A própria
ciência material muda a cada dia suas definições sobre as descobertas. Espiritualmente
falando nosso saber também é relativo, ou seja vem sendo revelado aos poucos
conforme a capacidade de entendimento dos seres em provas. É urgente para o
nosso momento, assumir a condição de espírito vivendo uma experiência humana, temporária,
projetada para viver uma trama, uma peça de teatro, onde faremos provas e é só
na matéria que Deus submete seus filhos a esta lição pedagógica. Tudo é uma
ilusão, nada é real humanamente falando. Tudo se transforma, pois na natureza
temos Deus, Espírito e matéria. Se o espírito é nada, Deus é tudo, o restante é
matéria, inclusive o humano!
Quando Jesus
disse para "orar e vigiar", referia-se ao cuidado que precisamos ter
com a mente, a consciência humana assumida a cada personagem vivido nas provas.
Ela é projetada para tentar, para ganhar sempre, propõe egoísmo e é inimiga da
evolução espiritual. Quando os espíritos humanizados perceberem a importância
da meditação, ou seja, pensar os pensamentos, não falo em ficar sentado em
posição de lotus murmurando humhumhumnum, é pensar o que a mente recebe de
sugestões, e saber que são provas que Deus através dos espíritos fazem chegar a
consciência humana. Isso é o que diz as questão 459, do livro já citado,
"frequentemente são eles que vos dirigem". O resultado das provas?
Vivê-las com amor ou sem amor. Lembrando que amar é permitir ao outro ser estar
e fazer, resumindo: respeito!
Respeitar/amar a Deus, que é a causa primaria e que avalia tudo por sua
inteligência suprema, com justiça e amor sublime, e ao próximo, que lhe trás as
provas através de ações comandadas por esta mesma causa primária através das
criaturas que colaboram para a obra geral.
"Não se
amoldem ao padrão deste mundo, mas transforme-se pela renovação da sua
mente".
(Paulo aos
Romanos 12:2)
Achou
difícil de realizar, e não é possível agora?
Nada de desespero. Deus não tem pressa. A pressa é sua,
pois enquanto não conseguir, estará sujeito a encarnações na matéria, que são
sinônimo de prazer e dor.
Paz
e bem!