Milton Fiorillo

DIÁLOGOS COM O ALÉM

Por Milton Fiorillo há 7 anos

Dia chuvoso na grande Florianópolis, após o café da manhã procuro algo para fazer, O que não é possível ao ar livre. Vou na estante e pego o primeiro livro que as mãos alcançam. É um exemplar contendo as revistas espíritas do ano de 1858 onde Kardec tem alguns diálogos publicados em seções mediúnicas realizadas na Sociedade Espírita por ele fundada em Paris naquele ano.

Um deles que está na página 188 da Edicel, traduzida por Júlio Abreu Filho, a entrevista é com o desencarnado em novembro daquele ano, o Sr. Badet, que era um frequentador das seções quando na terra.  A viúva Badet havia comentado que teria visto sua imagem na vidraça do apartamento em que residiam, e foi então que Kardec invocou sua manifestação.

Na sétima pergunta ao entrevistado, tem uma detalhe interessante, que também é revelado na questão 23 de O Livro dos Espíritos, quando fala que "para nós humanos o espírito é nada". Perguntaram assim ao errante Sr. Badet " Ultimamente disseram-nos que os espíritos não têm olhos. Ora, se essa imagem é a reprodução do perispírito, como foi possível reproduzir os órgãos da visão? - O perispírito não é o espírito: a aparência, ou perispírito, tem olhos, mas o espírito não o tem. Bem que vos disse, falando de perispírito, que eu estava vivo". Ou seja, sentindo-se humano sem carne.

Quem vê o espírito de quem?

O que o "médium viu" não é o espírito portanto, e sim o corpo que Kardec chama de perispírito, outros chamam de fantasma, ou ainda alma penada...portanto matéria, pois deriva do fluido cósmico universal, invisível por estar em dimensão diferente da matéria densa, e é visto por quem possui a faculdade específica.

Quando na questão 23 acima citada, o Espírito da Verdade diz "o espírito para vós é nada", esta dizendo, existem consciências distintas, a que assumimos ao reencarnar, que irá encerrar quando desumanizarmos ou seja, quando conseguirmos abandonar as posses humanas, e assumir nossa verdadeira identidade espiritual eterna, essa que não tem forma. Paralelo temos a consciência temporária programada para a realização de missão, provas e expiação, que mantém a consciência espiritual sob o véu do esquecimento.

Essa desumanização, é o processo de despossuir verdades e crenças, a dependência da matéria, (o humano é matéria), tornando-se um com Deus. Este é processo a ser feito na terra, para ter validade, para ser considerado mérito, evolução espiritual, ao contrário do que muitos pensam, de que evolução espiritual é cultura espiritual, é ser bonzinho nos padrões humanos, é dar cesta básica... Isso levou Paulo a dizer em suas cartas, que o ser humano é o inimigo de Deus, não o ser em si, mas a sua humanidade, carregada de saber, verdades e autoria das ações, os deuses de suas realizações, e só existe um Deus, ou seja a inteligência suprema, a causa primaria de todas as coisas. Se este processo tiver que ser realizado após um longo período de teimosia em permanecer humano após o desencarne, o que ocorre com frequência, querendo cuidar da casa, dos filhos, do marido, vingar-se de algo que não perdoou enquanto encarnado, sofrerá até pedir ajuda, e em sendo socorrido os "engenheiros siderais" farão de forma automática a remoção da consciência do último personagem, que ficará em espírito, sem forma (sem olho) como acima citou na entrevista o Sr. Badet, aguardando a oportunidade de reencarnar-se, vestindo um "aparelho" de acordo com o mundo que ira habitar, segundo as suas necessidades evolutivas, diz a questão 132 de O Livro dos Espíritos.

Esta reflexão, nos alerta para a necessidade de doar as nossos posses amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Não falo de doar sua casa, seu carro, seu filho, mas de viver consciente de que nada é seu, que tudo a Deus pertence e disponibiliza de acordo com a trama que foi elaborada para as suas provas e missão. Uma das posses mais difíceis que o ser humano tem a realizar, são suas verdades, seu saber. Nosso saber é relativo. A própria ciência material muda a cada dia suas definições sobre as descobertas. Espiritualmente falando nosso saber também é relativo, ou seja vem sendo revelado aos poucos conforme a capacidade de entendimento dos seres em provas. É urgente para o nosso momento, assumir a condição de espírito vivendo uma experiência humana, temporária, projetada para viver uma trama, uma peça de teatro, onde faremos provas e é só na matéria que Deus submete seus filhos a esta lição pedagógica. Tudo é uma ilusão, nada é real humanamente falando. Tudo se transforma, pois na natureza temos Deus, Espírito e matéria. Se o espírito é nada, Deus é tudo, o restante é matéria, inclusive o humano!

Quando Jesus disse para "orar e vigiar", referia-se ao cuidado que precisamos ter com a mente, a consciência humana assumida a cada personagem vivido nas provas. Ela é projetada para tentar, para ganhar sempre, propõe egoísmo e é inimiga da evolução espiritual. Quando os espíritos humanizados perceberem a importância da meditação, ou seja, pensar os pensamentos, não falo em ficar sentado em posição de lotus murmurando humhumhumnum, é pensar o que a mente recebe de sugestões, e saber que são provas que Deus através dos espíritos fazem chegar a consciência humana. Isso é o que diz as questão 459, do livro já citado, "frequentemente são eles que vos dirigem". O resultado das provas? Vivê-las com amor ou sem amor. Lembrando que amar é permitir ao outro ser estar e fazer, resumindo: respeito!  Respeitar/amar a Deus, que é a causa primaria e que avalia tudo por sua inteligência suprema, com justiça e amor sublime, e ao próximo, que lhe trás as provas através de ações comandadas por esta mesma causa primária através das criaturas que colaboram para a obra geral.

"Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transforme-se pela renovação da sua mente".

(Paulo aos Romanos 12:2)

Achou difícil de realizar, e não é possível agora?

Nada de desespero. Deus não tem pressa. A pressa é sua, pois enquanto não conseguir, estará sujeito a encarnações na matéria, que são sinônimo de prazer e dor.

Paz e bem!