Renato Mendes

Ausência de eu

Por Renato Mendes há 7 anos

Todas as coisas são interdependentes.

Assim como no exemplo do vagão deste texto, o corpo segue o mesmo princípio, separe os ossos, tecidos, músculos, órgãos e todo o resto e então teremos ossos, tecidos, músculos, órgãos, etc, ainda temos um corpo se assim o chamar, mas não mais na forma concebida de corpo.

Esta questão do corpo gera duas constatações interessantes. Não podemos chamar o corpo de eu. Fazendo uma análise bem simplista, ao cortar as unhas ou os cabelos e eles serem jogados ao lixo, você que estaria sendo jogado ao lixo? Ou seria menos você uma vez que o corpo foi fracionado? Podemos usar este exemplo para qualquer outra parte, inclusive ao cérebro. Eu perguntaria, você é qual dos hemisférios ou parte do cérebro? Há casos de pessoas conscientes e sem partes do cérebro, e como vimos anteriormente o cérebro é composto por células que por sua vez é composto por átomos. Logo, não há nada no corpo que define ser você.

A outra constatação é chamar o corpo de meu. Usando o mesmo exemplo de que você corta as unhas e cabelos e joga no lixo, ou quem sabe doa um órgão, ou amputa um membro, você dirá que perdeu qualquer uma destas partes e elas agora não fazem parte do seu corpo. Mas veja, se você pode perder na verdade nunca foi seu. Assim como existe a percepção do corpo com todos os membros pode haver em outro momento a percepção do corpo sem um dos membros, e você se lembrará deste membro como se um dia fosse seu e já não é mais. Se hoje ele não é, na verdade nunca foi, você que afirma te-lo sido, uma afirmação apenas.

Você percebe a interdependência das partes em uma relação e chama isto de eu ou meu, mas não é.

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Todas as coisas são impermanentes.

Como vimos neste texto todas as coisas são impermanentes, isto inclui corpo, pensamentos, emoções e sentimentos. Tanto é assim que pensamentos vem e vão, emoções aparecem e desaparecem, sentimentos existem para depois não existirem mais. E como todas as coisas, um pensamento que aparentemente insiste em repetir ou se manter na verdade não é o mesmo pensamento, um pensamento nasce e morre neste presente, outro irá nascer e morrer no próximo presente para outro nascer e morrer no outro presente até haver um presente em que não há pensamentos, para em algum presente depois outro pensamento surgir e assim vai, mesmo que os pensamentos pareçam iguais eles não são iguais, nem os mesmos. Raiva, alegria, tristeza ou qualquer outra emoção funciona da mesma forma, o que parece ser uma emoção se prolongando ou repetindo é na verdade uma nova emoção pois novos fatores estão envolvidos a cada presente, e, se agora há raiva, por exemplo, nada impede que no presente seguinte haja tristeza, as emoções são outras, elas não mudaram de raiva para tristeza, simplesmente são outras.

Sendo assim, não podem os pensamentos, emoções ou sentimentos serem ou terem eu, pois o eu surgiria para desaparecer para surgir modificado, e haveria momentos em que eu não existiria ainda que houvesse a consciência de não haver eu.

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Todas as coisas são impermanentes e interdependentes portanto destituídas de eu e, ainda assim, há a consciência de todas elas.
Renato Mendes

Interdependência

Por Renato Mendes há 7 anos

Todas as coisas são compostas por todas as coisas.

Tomemos um vagão como exemplo, junte as rodas, suportes, vigas, paredes e todo o resto em uma composição aparente e denominaremos isto de vagão. Mas será isto um vagão? Separe todas as suas partes e as coloque no chão. Onde está o vagão agora? Agora pegue a roda e separe as circunferências de seus aros e os coloque no chão, onde está a roda? Agora pegue a circunferência maior e a divida em partes iguais, onde está a circunferência? Agora pegue todas as partes e as componha novamente e teremos algo que chamaremos de vagão.

Pegue agora o vagão e o junte a outros vagões e a uma locomotiva, temos agora um trem.

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Todas as coisas interagem com todas as coisas.

Analisando a interação das partes que compõe uma unidade aparente percebemos que qualquer ação de uma parte afeta o todo assim como o todo afetará todas as partes. Tomemos um exemplo simples, dê uma pancada em uma das rodas do vagão e todo o vagão será afetado, cada parte em um grau próprio e de maneira própria. O instrumento utilizado pra pancada e o agente deste instrumento também são afetados, além das pessoas que ouvirão a pancada, o ar que se move, o trilho que vibra, etc.

Toda ação gerará uma reação de mesma intensidade em sentido contrário. Exemplo, esmurre uma parede e veja se ela não lhe “esmurrará” de volta de mesmo grau e intensidade, sem esquecer, que tudo o que compõe a parede e é composto pela parede e tudo o que compõe o corpo e é composto pelo corpo são afetados.

Sendo assim, façamos uma imagem de tudo o que existe se relacionando como uma grande malha e cada parte ou coisa que compõe este tudo seja um nó desta malha. Qualquer movimento em um nó afetará todos os nós de maneira única, ou seja, afeta o todo o que por consequência afetará este nó que deu início ao movimento. Não há nós isolados, pense nesta interação complexa de um nó afetando e sendo afetado por todos os outros nós.

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Para finalizar, quando digo todas as coisas, incluo pensamentos, emoções e sentimentos. Portanto, atenção ao que esteja “movimentando”, pois, este “movimento” afeta a todos que é o todo e por consequência afeta você de volta.

A raiva retorna ao raivoso assim como o amor retorna ao amoroso. Se quer ser amado, ame.