Gileno de Sá Cardoso

ALGO PENSA EM MIM

Por Gileno de Sá Cardoso há 7 anos

Nietzsche sempre repetia essa afirmativa. Para ele esse algo é uma força vital genealógica que faz brotar involuntariamente o pensamento. É como se a geração do pensamento fosse uma coisa involuntária assim como o são os movimentos peristálticos do intestino ou as contrações do coração. Você pode estar se questionando agora: sim, mas e os movimentos voluntários dos demais músculos, por exemplo, das pernas que nos possibilita a locomoção? Ora, também necessitam de um comando do pensamento e o Nietsch defendia uma involuntariedade do cérebro, à exemplo de intestino e coração. Vivenciando a vida com essa consciência, a figura do EU desaparece automaticamente e você passa a se sentir um observador. É como se você deixasse de ser sua identidade construída pela mente e a sua consciência passasse a ocupar o espaço vazio entre a sua essência e a mente.

Gileno de Sá Cardoso

AS DUAS CONSCIÊNCIAS

Por Gileno de Sá Cardoso há 7 anos

As duas (C) consciências são importantes pra nos tornarmos o agora na Realidade Maior do Universo. A Consciência é o observador da nossa vozinha interior, emitida pela mente a todo momento, como forma de provas ao nosso Eu. A consciência é a nossa experienciação da vida enquanto o nosso eu permaneceu identificado com a mesma. Essa consciência é importante no processo de descarte da necessidade do ganho, prazer, elogio e razão propiciando assim o retorno da Consciência.

Renato Mendes

Comece pelo começo

Por Renato Mendes há 7 anos

Já percebeu que vivemos em uma era imediatista? Queremos tudo agora, esperar é uma tortura.

Este imediatismo nos atinge inclusive em assuntos de espiritualidade.

Nós devoramos o assunto e queremos um efeito imediato. Lemos que Atman é Brahman e queremos experimentar a Unidade agora, seja lá o que isto queira dizer.

Mas vamos com calma, existem sim testemunhos de pessoas que "despertaram" de modo repentino, mas se isto não ocorreu com você não fique parado esperando, pois da espera você receberá apenas a espera.

Figura

Quando vemos uma criança começando a andar é interessante notar a euforia dela em chegar logo ao objetivo, e assim que tenta correr ela cai. Aí ela se levanta e percebendo que não consegue chegar correndo, ela se concentra no primeiro passo, e com calma tenta dar o segundo e o terceiro até chegar.

Pois bem, assim como a criança, concentre-se no primeiro passo, e aí estará pronto para dar o segundo, mas não tente alcançar a chegada se nem começou.

E falando em caminhada, por onde sempre começamos? Começamos de onde estamos, não é na linha de partida, porque mesmo para chegar à linha de partida devemos caminhar a partir de onde estamos agora.

Por onde começamos então se o assunto é espiritualidade? Comece pelo mais perto, comece por você, e onde está agora e o que você é? Observe-se para descobrir. Observe-se aí mesmo onde está agora, observar é o começo e para observar não é necessário ir a lugar algum ou fazer coisa alguma, apenas observar.

Observe-se. Observe-se fazendo qualquer coisa ou não fazendo nada. Observe o seu mundo interno.

Não faça da observação um ritual, mas se praticar um ritual, observe-se praticando. Não espere sentar na posição de lótus ou fazer mantras e mudras para observar-se, mas ao fazer tudo isto observe-se internamente enquanto faz. Observe-se indo meditar, observe-se meditando, observe-se após a meditação.

Observar não cansa, observar é apenas observar e mais nada, se vier o cansaço observe isto.

Figura

Observar-se é dar o primeiro passo, e se fizer apenas isto já é melhor do que não ter feito nada.

É melhor sair desta vida com ao menos um passo dado do que não ter dado passo algum.

Observe-se e então a caminhada terá dado início.
Roosevelt Cardoso

QUE MUNDO É ESSE?

Por Roosevelt Cardoso há 7 anos

QUE MUNDO É ESSE?

      Por uma necessidade de auto consciência a mente cria um mundo no qual nos vemos de forma bastante real dentro dele e o que mantém essa ilusória manifestação é essa mesma crença em sua realidade. Existimos nesse mundo não com o propósito de mantê-lo, mas de perceber sua irrealidade. Diante da dor o ser humano só encontra uma alternativa, fugir, encontrar uma maneira de acabar com o sofrimento  e faz isso porque toma esse mundo como real.

      Toda essa irrealidade, dor, sofrimento  deixarão de existir não a partir do momento em que eu não sentir dor, mas à medida em que questiono, “quem sofre”, quem vai imergir e viver os pensamentos ou observá-los. A  crença no eu como sendo real, personificado  é quem cria esse mundo ilusório e aí a dor dói e o sofrimento machuca. Quem sou, eis a única questão.      

Roosevelt Cardoso

O FLUIR DA VIDA

Por Roosevelt Cardoso há 7 anos

      A vida flui sem que tenhamos o menor controle sobre ela,  os pensamentos ativam em nosso corpo mental todas aquelas energias, memórias que precisam ser vivenciadas criando os atos do dia a dia, não temos a menor culpa ou responsabilidade pelo ocorrido, mas e qual seria então nossa responsabilidade, qual o real sentido da vida, qual o propósito? O de nos tornarmos  conscientes de tudo aquilo que está inconsciente em nós, o subconsciente. Diante de todas as verdades individuais vividas ou vivenciadas em todo esse período de conflito, o que se observa, os erros ou acertos, as escolhas?

      Não, nada disso existe ou existiu, tudo o que ocorreu foi da forma exata como deveria ter acontecido, nada poderia ter sido diferente, pois a vida é quem determina o que vai acontecer. Quanto aos propósitos, como recobramos nossa consciência original diante dos atos e circunstâncias da vida? Despertando dentro de si o observador aquele eu que vai observar as ações do ego-mente, ex: estou dirigindo no trânsito e sou “trancado” me observo, me percebo e melhor me assumo completamente irritado, e isso não me traz a mínima preocupação ou culpa por estar assim. Pronto, tomei consciência de um aspecto inconsciente em mim até então ignorado pela minha identificação com a raiva, esse ato de me observar enfraquece esse aspecto raiva que faz parte de minha personalidade.

                             “Tudo é revelado ao ser exposto à luz e tudo que é exposto à luz, se torna luz”.

                                                                                                                                               Paulo.

Espiritualismo

INVESTINDO EM SABEDORIA DIANTE DOS INVERNOS DA VIDA

Por Espiritualismo há 7 anos

Augusto Jorge Cury

 

 

Os princípios da matemática emocional

 Muitos investem boa parte de sua energia física e psicológica em aplicar seu dinheiro nas bolsas de valores, em adquirir bens materiais, em ter um carro do último tipo, em adquirir um bom plano de previdência. A segurança financeira é legítima, mas é totalmente insuficiente para satisfazer as necessidades mais íntimas do homem, para dar sentido à sua existência, enriquecer seu prazer de viver e amadurecer sua personalidade.

Tratei diversas pessoas com transtornos depressivos que eram financeiramente ricas, mas que tinham perdido o encanto pela vida. Várias comentaram que sentiam inveja de pessoas simples, pois embora não tivessem cultura nem suporte financeiro, elas sorriam diante dos pequenos eventos da vida.

Lembro-me de um grande empresário agroindustrial que me disse que alguns dos seus empregados cortadores de cana eram mais ricos do que ele, pois, mesmo diante da miséria material, conseguiam cantar e se alegrar enquanto trabalhavam. De fato, há miseráveis que moram em palácios e ricos que moram em favelas...

Não estou fazendo apologia à miséria, pelo contrário, a miséria em todos os sentidos deveria ser extirpada das sociedades, mas quero dizer que a psique humana é tão complexa que desobedece às regras da matemática financeira. A matemática emocional tem, felizmente, princípios que ultrapassam os limites da matemática lógica, financeira. Ter não é ser. Quem tem dez casas não tem dez vezes mais prazer pela vida ou dez vezes mais segurança emocional do que quem tem um casebre. Quem tem 1 milhão de dólares não é milhares de vezes mais alegre do que quem tem alguns míseros trocados.

É possível ter muito financeiramente e ser emocionalmente triste, infeliz. É possível ter riquezas materiais e baixa capacidade de contemplação do belo. A matemática emocional pode inverter os princípios da matemática financeira, principalmente se alguém aprender a investir em sabedoria. O processo da construção da inteligência é um espetáculo tão sofisticado que possui atos inesperados e cenas imprevisíveis ao longo da vida.

Todos comentam sobre a miséria física porque é perceptível aos olhos, mas raramente se comenta sobre a miséria emocional, que abate o ânimo e restringe o prazer da existência.

A temporalidade da vida é muito curta. Num instante somos jovens e em outro somos velhos. As crianças gostam de fazer aniversário. Quando chega a maturidade, queremos parar o tempo, mas ele não para. A brevidade da vida deveria nos fazer procurar a sabedoria e dar um sentido mais rico para a existência, caso contrário, o tédio e a angústia serão parceiros íntimos de nossa trajetória.

 

Investindo em sabedoria: as dores da existência sob outra perspectiva

Cristo objetivava que seus discípulos se tornassem grandes investidores em sabedoria. Ele não queria que o ser humano tivesse uma meta existencial pobre e superficial. Ao investigarmos sua história, constatamos que para ele cada ser humano era um ser ímpar e deveria viver sua vida como um espetáculo singular. Por isso, ele aproveitava cada oportunidade para treinar seus discípulos a crescer diante das limitações e das fragilidades humanas. Procurava abrir-lhes o horizonte intelectual para que pudessem ver os sofrimentos sob outra perspectiva.

As dores da existência, tanto as físicas quanto, principalmente, as psicológicas, deveriam ser aliviadas. Todavia, para Cristo, elas deveriam ser usadas para lapidar as arestas da personalidade. O ser humano aprende facilmente a lidar com seus sucessos e ganhos, mas tem grande dificuldade de aprender a lidar com seus fracassos e perdas. Vivemos em sociedades que negam as dores da existência e superdimensionam a busca pelo sucesso. Qualquer pessoa aprende a lidar bem com as primaveras da vida, mas só os sábios aprendem a viver com dignidade nos invernos existenciais...

 O fato de sermos seres que pensam e têm consciência nos torna uma espécie muito complexa e, por vezes, complicada. Uma espécie que constrói seus próprios inimigos. A cada momento penetramos nos labirintos da memória e construímos ricas cadeias de pensamentos sem saber como encontrar os endereços das informações na memória. Pensar é um espetáculo. Porém, pode ser tanto um espetáculo de prazer como de terror. Se o mundo das idéias que construímos no placo de nossas mentes é negativo, fazemos de nossas vidas um espetáculo de angústia, ainda que possamos ter privilégios exteriores.

Freqüentemente, o homem é o maior algoz de si mesmo. Muitos sofrem por antecipação, fazem o “velório antes do tempo”. Os problemas ainda não ocorreram e eles já estão sofrendo antecipadamente. Outros ruminam o passado e mergulham numa esfera de sentimentos de culpa. O peso da culpa está sempre ferindo-os. Outros, ainda, se auto destroem pela hipersensibilidade emocional que possuem; pequenos problemas têm um eco intenso dentro deles. As pessoas hipersensíveis costumam ser ótimas para os outros, mas péssimas pára si mesmas. Quando alguém as ofende, estraga o seu dia e, às vezes, até sua semana. Assim, para essas pessoas, a magnífica construção de pensamentos deixa de ser um espetáculo de entretenimento para ser uma fonte de ansiedade.

Se não reciclarmos as idéias de conteúdo negativo, não trabalharmos o sentimento de culpa e repensarmos a hipersensibilidade emocional, facilmente desenvolveremos depressão ou stress acompanhado de sintomas psicossomáticos. Pensar não é uma opção do homem. Pensar, como vimos, é um processo inevitável. Ninguém consegue interromper o fluxo de pensamentos, mas é possível gerenciar com determinada maturidade os pensamentos e as emoções, caso contrário nos tornamos vítimas de nossa própria história. Se o homem não for o agente modificador de sua história, se não a reescrever com maturidade, certamente será vítima dos invernos existenciais.

Reescrever a história é o papel fundamental do homem. Precisamos incorporar a necessidade desse capital intelectual.

Cristo destilava sabedoria da sua miséria...

Cristo estava sempre conduzindo as pessoas a reescrever suas histórias e a não ser vítimas das intempéries sociais e dos sofrimentos que viviam. Ele se preocupava com o desenvolvimento das funções mais altruístas da inteligência. Desejava que elas tivessem domínio próprio, administrassem os pensamentos e aprendessem a trafegar nas avenidas da perseverança diante das dificuldades da vida.

Cristo foi ofendido diversas vezes, porém sabia proteger a sua emoção. Alguns fariseus diziam que ele era o principal dos demônios. Para alguém que se colocava como o “Cristo”, essa ofensa era muito grave. Todavia, as ofensas não o atingiam. Somente uma pessoa forte e livre é capaz de refletir sobre as ofensas e não ser fedia por elas. Cristo era forte e livre em seus pensamentos, por isso podia dar respostas excepcionais em situações em que facilmente a ira nos invadiria.

Nem mesmo a possibilidade de ser preso e morto a qualquer momento parecia perturba-lo. Ele transcendia as situações que normalmente nos sobrecarregariam de ansiedade. Tinha muitos opositores, todavia manifestava com ousadia seus pensamentos em público. Tinha todos os motivos para ter insônia. Contudo, parecia que não perdia noite de sono, dormindo até em situações turbulentas.

Certa vez, os discípulos, que eram pescadores e, portanto, especialistas em mar, ficaram intensamente apavorados diante de uma grande turbulência marítima. Enquanto os discípulos estavam desesperados, Cristo dormia. Ele não era pescador nem estava acostumado a viajar de barco. Quem não está acostumado a navegar geralmente sente enjôo na viagem, principalmente se o mar estiver agitado. Desesperados, eles o despertaram. Acordado, ele censurou o medo e a ansiedade deles e com um gesto acalmou a tempestade. Os discípulos, mais uma vez intrigados, perguntavam entre si: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem...?”. O que quero comentar aqui não é o ato sobrenatural de Cristo, mas a tranqüilidade que demonstrava diante das situações em que o desespero imperava.

Ele agia com serenidade quando todos ficavam apavorados. Preservava sua emoção das contrariedades. Muitos fazem de suas emoções um depósito de lixo. Não filtram os problemas, as ofensas, as dificuldades que atravessam, pelo contrário, elas entram dentro de si com extrema facilidade, gerando angústia e stress. Todavia, Cristo não se deixava invadir pelas turbulências da vida. Ele administrava a sua emoção com exímia habilidade, pois filtrava os estímulos angustiantes, estressantes.

Não apenas o medo não fazia parte do seu dicionário da vida, mas também o desespero, a ansiedade, a insegurança e a instabilidade.

Os discípulos contemplavam seu mestre atenta e embevecidamente e, assim, pouco a pouco, aprendiam com ele a ser fortes e livres interiormente, bem como a ser seguros, tranqüilos e estáveis nas situações tensas.

Todos elogiam a primavera e esperam ansiosamente por ela, pois pensam que as flores surgem nessa época do ano. Na realidade, as flores surgem no inverno, ainda que clandestinamente e se manifestam na primavera. A escassez hídrica, o frio, a baixa luminosidade, pertinentes ao inverno, castigam as plantas, levando-as a produzir metabolicamente as flores que desabrocharão na primavera. As flores contêm as sementes e as sementes expressam uma tentativa de continuação do ciclo da vida das plantas diante das intempéries que atravessam no inverno. O caos do inverno é responsável pelas flores da primavera.

Ao analisar a história de Cristo, fica visível que os invernos existenciais pelos quais ele passava não o destruíam, pelo contrário, geravam nele uma bela primavera existencial, expressa por sua sabedoria, amabilidade, tranqüilidade, tolerância, capacidade de compreender e superar os conflitos humanos.

 

Todo ser humano passa por invernos existenciais

Toda e qualquer pessoa passa por turbulências em sua vida. As dores geradas por problemas externos ou por fatores internos são os fenômenos mais democráticos da existência. Um rei pode não ter problemas financeiros, mas, tem problemas internos. A princesa Diana era elegante e humanística e não atravessava problemas financeiros, mas pelo que consta, possuía dores emocionais intensas, sofria crises depressivas. Talvez sofria mais do que muitos miseráveis da África ou do Nordeste brasileiro.

A pessoas que passam pelas dores existenciais e as superam com dignidade ficam mais bonitas e interessantes interiormente. Quem passou pelo caos da depressão, da síndrome do pânico ou de outras doenças psíquicas e o superou, se tornou mais rico, belo e sábio. A sabedoria torna as pessoas mais atraentes, ainda que o tempo sulque a pele e traga as marcas da velhice.

Uma pessoa que tem medo do medo, medo da sua depressão, das suas misérias psíquicas e sociais, tem menos equipamento intelectual para supera-las. O medo alimenta a dor... Aprender a enfrentar o medo, a atuar com segurança nos sofrimentos e a reciclar as causas que financiam os conflitos humanos conduz uma pessoa a reescrever sua história.

Todos gostamos de viver as primaveras da vida, viver uma vida com prazer, com sentido, sem tédio, sem turbulências, onde os sonhos se tornem realidade e o sucesso bata às nossas portas. Entretanto, não há um ser humano que não atravesse invernos existenciais. Algumas perdas e frustrações que vivemos são imprevisíveis e inevitáveis. Quem consegue evitar todas as dores da existência? Quem nunca teve momentos de fragilidade e chorou lágrimas úmidas ou secas? Quem consegue evitar todos os erros e fracassos? O homem, por mais prevenido que seja, não consegue controlar todas as variáveis da vida e evitar determinadas angústias.

Todos passamos por focos de tensão. As preocupações existenciais, os desafios profissionais, os compromissos sociais e os problemas nas relações interpessoais geram continuamente focos de tensão que, por sua vez, geram stress e ansiedade. Os focos de tensão podem exercer um controle sobre a inteligência que nos impede de ser livres, tanto na construção quanto no gerenciamento dos pensamentos. Às vezes, a atuação dos focos de tensão é tão dramática que exerce uma verdadeira ditadura sobre a inteligência.

Quem cuida apenas da estética do corpo e descuida do enriquecimento interior vive a pior solidão, a de ter abandonado a si mesmo em sua trajetória existencial. As pessoas que vivem preocupadas com cada grama de peso fazem de suas vidas uma fonte de ansiedade. Elas têm grande dificuldade de superar as contrariedades, as contradições e os focos de tensão que surgem na trajetória existencial.

A ditadura dos focos de tensão torna o ser humano uma vítima de sua história e não um agente construtor dela, um autor que reescreve seus principais capítulos. É mais fácil o homem ser vítima do que autor de sua história. Muitas pessoas são marionetes das circunstâncias da vida, não conseguindo redirecionar e repensar suas histórias.

Cristo via as dores da vida sob outra perspectiva. Enfrentava as contrariedades sem desespero, não tinha medo da dor nem das frustrações pelas quais passava. Muitos o decepcionavam, até os seus íntimos discípulos o frustravam, mas ele absorvia aquelas frustrações com tranqüilidade. Como mestre da escola da existência, treinava continuamente seus discípulos a superarem seus focos de tensão, a enfrentarem seus medos e seus fracassos. Assim, poderiam reescrever suas histórias e corrigir suas rotas com maturidade.

Certo dia, Jesus teve um diálogo curto e cheio de significado com seus discípulos. Disse: ”No mundo passais por várias aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo”. Ele reconheceu que a vida humana é sinuosa e possui turbulências inevitáveis, encorajou seus íntimos a não se intimidar diante das aflições da existência, mas a se equipar com ânimo e determinação para supera-las. Disse que tinha vencido o mundo, tinha vencido as intempéries da vida, o que indica que ele viva sua vida, não de qualquer maneira, mas com consciência, com metas bem estabelecidas, como se fosse um atleta.

 

Produzindo uma escola de sábios

Cristo teve um nascimento indigno e os animais foram suas primeiras visitas. Provavelmente, até as crianças mais pobres têm um nascimento mais digno do que ele. Quando tinha dois anos, deveria estar brincando, mas já atravessava grandes problemas. Era perseguido de morte por Herodes. Dificilmente uma criança frágil e inocente foi tão perseguida como ele. Fugiu com seus pais para o Egito, fez longas jornadas desconfortáveis, a pé ou no lombo de animais; tinha uma inteligência incomum para um adolescente, sendo admirado aos doze anos por intelectuais da época. Todavia, tornou-se um carpinteiro, tendo de labutar para sobreviver.

Quando manifestou seus pensamentos ao mundo, causou grande turbulência. Foi amado por muitos, mas na mesma proporção foi perseguido, rejeitado e odiado pelos homens que detinham o poder político e religioso de sua época. Foi incompreendido, rejeitado, esbofeteado, cuspido e ferido física e psicologicamente. Cristo tinha todos os motivos para ser tenso, irritado, angustiado, revoltado. Em vez disso, expressava tranqüilidade, capacidade de amar, de tolerar, de superar seus focos de tensão e, como disse, até fazer poesia da sua miséria.

Apesar de passar por tantas dificuldades ao longo de sua vida, era uma pessoa alegre. Talvez não manifestasse largos e fartos sorrisos, mas era alegre no seu interir, provavelmente mais do que se possa imaginar. Logo antes do seu martírio, manifestou que os discípulos deveriam provar da alegria que ele possuía, da alegria completa. Muitos têm bons motivos para ser felizes, mas estão sempre insatisfeitos, descontentes com o que são e possuem. Todavia Cristo, apesar de todos os motivos para ser uma pessoa triste, se mostrava feliz e sereno.

Como é possível alguém que sofreu tanto desde a infância mostrar-se tão tranqüilo, capaz de não perder a paciência quando contrariado e superar as contrariedades da vida com serenidade? Como é possível alguém tão rejeitado e incompreendido manifestar que não apenas era alegre, mas que também possuía uma fonte de alegria que poderia propiciar ao homem prazer e sentido existencial pleno? Cristo era um grande investidor em sabedoria. Seus sofrimentos o tornavam mais tranqüilo ao invés de mais tenso. As dores não o desanimavam nem causavam conflitos psíquicos como normalmente ocorre conosco.

Cristo demonstrava ser um excelente gerente dos seus pensamentos. Pela maneira como se comportava, pode-se concluir que quando passava por frustrações e contrariedades, não gravitava em torno do estímulo estressante. Conseqüentemente, seus pensamentos não ficavam hiperacelerados, mas aquietavam-se no palco de sua mente. Isso facilitava que ele os administrasse e produzisse respostas calmas e inteligentes em situações tensas.

É difícil construir uma história de prazer quando nossas vidas transcorrem num deserto. É difícil nos doarmos sem esperar o retorno das pessoas, não sofrermos quando elas não correspondem às nossas expectativas. É igualmente difícil administramos os pensamentos nos focos de tensão. Não conheço um psiquiatra ou psicólogo que tenha capacidade de preservar sua emoção de estresses e investir em sabedoria como Cristo. Ele foi o mestre dos mestres numa escola onde muitos intelectuais se comportam como alunos.

Cristo não queria fundar uma corrente de pensamento psicológico. Seu projeto era muito mais ambicioso e sofisticado do que uma corrente de pensamento. Entretanto, sua psicologia tinha uma complexidade ímpar. A psicologia clássica nasceu como ciência há cerca de um século, mas Cristo, há cerca de vinte séculos, exercia uma psicologia preventiva e educacional no mais alto nível.

Os discípulos aprenderam, pouco a pouco, a lidar com maturidade com seus sentimentos de culpa, com seus erros, com as suas dificuldades; a transitar com dignidade pelos seus invernos existenciais. Compreenderam que seu mestre não exigia que fossem super-homens, que não fracassassem, não atravessassem dificuldade e nem tivessem momentos de hesitação, mas que aprendessem a ser fiéis à sua própria consciência, que se colocassem como aprendizes diante da vida e se transformassem paulatinamente.

A esse respeito, o mestre contou uma história sobre um homem que encontrou uma pérola preciosa. Esse homem vendeu tudo o que tinha para adquiri-la. O ato de vender, aqui, não é algo literal, não significava vender os bens materiais, mas desobstruir a inteligência, o espírito humano, desfazer-se das coisas inúteis, para que pudesse adquirir essa pérola dentro de si mesmo. Há muitos significados para essa pérola, sendo um deles a sabedoria, ligada ao seu projeto transcendental. Está correto que o inteligente rei Salomão disse a respeito dela: “Feliz o homem que encontra a sabedoria ... porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, melhor a sua renda do que o ouro mais fino”;

Nas salas de aula das escolas clássicas, se os alunos ficarem em silêncio já é uma grande vitória. Se também incorporarem o conhecimento e forem bem nas provas, pode-se dizer que houve um grande êxito. E ainda se forem criativos e aprenderem algumas lições de cidadania, isso seria o máximo do êxito educacional. Na escola da existência de Cristo a exigência era muito maior. Não bastava conquistar essas funções da inteligência; era necessário investir em sabedoria, gerenciar os pensamentos nos focos de tensão, enfrentar o medo, usar seus erros e fracassos como fator de crescimento, reescrever suas histórias.

Cristo colocou seus discípulos numa escola de sábios. Sábios que foram comuns por fora, mas especiais por dentro. Sábios que viveram uma vida plena, ainda que fosse simples exteriormente...