Questionamentos e respostas das crianças
O que as crianças demonstram quando fazem sucessivos questionamentos ao adulto? Elas dizem: “Por que eu tenho que ir pra escola?”. “Para aprender”, responde o adulto. “E por que tenho que aprender?”. “Porque você precisa se formar!”. Elas retrucam: “Mas por que tenho que me formar?”. “Para ser um médico, por exemplo”. “E por que tenho que ser um médico?” ... e por aí vai.
Por que as respostas dos adultos não satisfazem as crianças? Observando a simplicidade delas ao responderem sem pensar, me veio a idéia de que é justamente por isso que elas não se satisfazem: porque as respostas vêm carregadas de conceitos individuais e a criança não concebe isso. Para elas, tudo é simples e direto, verdade universal e ponto. Quando perguntam “por que você está correndo?”, “por que está triste?” ou “por que está feliz?” Querem a resposta “porque sim”! Pra elas é simples, não tem que justificar (raciocinar) nada.
É o processo de raciocínio que mascara, que modifica a verdade universal, aquilo que a criança vive, o momento presente. Daí, ela não entende o porquê de tantas justificativas. Acho que no fundo de sua natureza ainda simples elas esperam dos adultos o reconhecimento de que tudo é como é e tem uma só causa primária, Deus.
Roosevelt.
PERFEITA COMPREENSÃO SOBRE O DESTINO
O Espiritualismo Ecumênico Universal afirma:
“... cada encarnação é preparada nos mínimos detalhes,
desde a concepção até o seu fim, para que cada um possa cumprir sua função no
universo”.
Os demais ensinamentos trazidos mostram que os atos da vida
são programados anteriormente à encarnação pelo próprio espírito e que, durante
a existência carnal, Deus causa os acontecimentos (Causa Primária) cumprindo
essa programação.
Desde os primórdios dos trabalhos que se informa que não
está se transmitindo novos ensinamentos, mas apenas ampliando os conhecimentos
já existentes. Dessa forma, a informação referente a programação da encarnação,
a ação do carma de vidas passadas e atuais sobre o destino do ser humano,
também já deveria existir.
Isso é uma realidade. O Espírito da Verdade, através de
Kardec já havia ensinado isso. Foi o ser humano que interpretou os ensinamentos
com base na sua própria soberba que alterou essas informações.
Para voltar à concepção original da transmissão dos
ensinamentos do Espírito da Verdade, tomo a liberdade de comentar alguns pontos
do “Livro dos Espíritos”. As perguntas que analisaremos estão no capítulo VI do
Livro II (Da vida espírita), no sub item “Escolha das provas”.
“258 – Quando na erraticidade, antes de começar nova
existência corporal, tem o espírito consciência e previsão do que lhe sucederá
no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de
passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio”.
A resposta à pergunta 258 acaba com todo questionamento
sobre a capacidade do ser encarnado gerar atos durante a existência sem que
tenha sido escolhido por ele mesmo anteriormente. Ao afirmar que o
livre-arbítrio do espírito se consiste em escolher os gêneros das provas que
realizará em uma encarnação, o Espírito da Verdade afirma que o ser não pode
agir livremente quando aprisionado na matéria carnal.
O destino de um ser é escrito por ele mesmo ao escolher os
acontecimentos de sua vida antes da encarnação (pergunta 851). Este é o
livre-arbítrio do espírito. A partir do momento em que encarna, perde o direito
de alterar essa programação livremente, pois não reconhece nos acontecimentos
da existência a sua própria autoria visando a elevação espiritual.
Mas o ser encarnado não é um fantoche. Apesar de seu destino
estar traçado, ele possui o livre-arbítrio do sentimento que escolherá para
passar pelas situações que ele mesmo escreveu antes da encarnação. Isso nos
mostra o Espírito da Verdade quando responde à pergunta 261:
“Pode um espírito, por exemplo, pedir a riqueza e
ser-lhe esta concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avaro
ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda lançar-se a todos os gozos da
sensualidade”.
Os seres mais materialistas diriam, então, que o mais lógico
seria pedir a “boa” situação material. Se, dentro desse raciocínio, o ser
conseguisse escolher os sentimentos que o fizessem evoluir, melhor, mas se não,
dentro dessa perspectiva, pelo menos teriam “gozado” a vida.
A pergunta 266, em outras palavras, espelha essa corrente de
pensamento materialista, que é fruto apenas daqueles que se prendem à condição
de ser humano. Respondendo a ela, o Espírito da Verdade afirma que o ser, após
alcançar a sua consciência espiritual, se liberta das ilusões e passa a “pensar
de outra maneira”.
O próprio Kardec expôs o pensamento da doutrina a respeito
dos desejos (satisfação material) daquilo que não foi pré-determinado pelo
próprio espírito:
“Sob a influência das ideias carnais, o homem na
Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal razão de lhe parecer sejam
escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos
materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros
com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma
impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrestres” (pergunta 266)
Amigo, você está desempregado? O causador do seu desemprego
não foi o governo, o patrão, a cobiça dos outros. Foi você mesmo que pediu para
vencer determinadas provas, onde era necessário, para cumpri-las, que você
ficasse desempregado.
A sua doença que lhe traz o flagelo físico não foi causada
por contaminação nem fruto do consumo de determinadas substâncias. Elas foram
pedidas por você mesmo como provas de encarnação.
Sabe a mulher que você hoje não consegue mais conviver? Você
pediu para se casar com ela. Sabe o amigo que lhe traiu? Ele foi instrumento
para gerar uma situação que lhe serviu de prova.
Para que as provas escritas antes da encarnação aconteçam é
necessário que haja instrumentos materiais. “Para lutar contra o instinto do
roubo, preciso é que se ache em contato com gente dada à prática de roubar”
(pergunta 260).
Tudo isso o ser humano não vê, porque o espírito quando
encarnado busca a satisfação e não a felicidade.
“A doutrina da liberdade que temos de escolher nossas
existências e as provas que devamos sofrer, deixa de parecer singular desde que
se atenda a que os espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as
coisas de modo diverso da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem
diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo”. (pergunta 266)
Portanto, as situações que você chama de negativas (não lhe
satisfaz) em sua vida, foram proporcionadas por Deus como forma provar que é
capaz de passar por elas sem “ranger de dentes” (sofrimento). Mas essa verdade
você só alcançará quando se libertar dos “gozos fugitivos do mundo” (prazeres).
O ensinamento da ação de Deus no planeta (Causa Primária de
todas as coisas) não pode conseguir subsistir conjuntamente com os critérios de
“bem ou mal”, “certo ou errado”. Deus não pode causar o “mal” ou praticar o
“errado”, pois isso feriria a supremacia de suas propriedades.
Todas as situações da existência são perfeitas pela Fonte
que as gerou (“nada ocorre sem a permissão de Deus” – pergunta 258 a) e pedidas
pelo próprio ser antes da encarnação como forma de alcançar a evolução
espiritual.
“Se um perigo vos ameaça, não foste vós que o criou e
sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele se expordes, por haverdes visto
nisso um meio de progredires e Deus o permitiu” (pergunta 258 a)
Se quisermos buscar a elevação espiritual, atingindo a
condição da existência sob a égide do “eu espiritual” (consciência crística)
cumpre, inicialmente, alterar a visão das situações negativas da existência. Ao
invés de acusarmos o próximo de nos ferir devemos entender que eles são apenas
“instrumentos” da ação de Deus para realizarem na carne as condições para as
provas que nós mesmos pedimos.
Ao invés de vermos nas situações o negativismo (tudo que
fere o individualismo) é preciso enxergar o positivismo (ação em benefício da
elevação espiritual) que essas situações nos trazem. Ao invés de buscarmos a
satisfação material, procuramos a felicidade universal que pode nos harmonizar
com o todo, nos levando a alcançar a paz de espírito.
Para que tudo isso ocorra é preciso mudar a compreensão dos
acontecimentos.
“O viajante que atravessa profundo vale ensombrado por
espesso nevoeiro não logra apanhar com a vista a extensão da estrada por onde
vai, nem os seus pontos extremos. Chegando, porém, ao cume da montanha, abrange
com o olhar quanto percorreu do caminho e quanto lhe resta a percorrer.
Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que ainda terá de transpor e combina então
os meios mais seguros de atingi-lo. O espírito encarnado é qual viajante no
sopé da montanha. Desenleado dos liames terrenais, sua visão tudo domina, como
a daquele que subiu à crista da serrania. Para o viajor, no termo de sua
jornada está o repouso após a fadiga; para o espírito, está a felicidade
suprema, após as tribulações e provas” (pergunta 266).
As situações de sofrimento (provas que afetam o desejo
material) nos são “pesadas” e geram sofrimentos, porque queremos algo
diferente. O desejo do ser humano pelas coisas materiais é para goza-las
(pergunta 267 a). Quando o ser encarnado alterar a sua consciência, passando a
viver o mundo material sob a inspiração espiritual, buscará as coisas materiais
não para esse gozo, mas para “conhecer-lhe as vicissitudes” (pergunta 267 a).
Não serão as situações materiais que se alterarão, pois elas
já foram programadas pelo espírito antes da encarnação, mas a compreensão que
cada um terá sobre as situações que se alterará. O desempregado não conseguirá
emprego com a evolução espiritual, mas “entenderá” o seu desemprego como
instrumento da sua elevação espiritual. O amigo traído não acusará o outro, mas
agradecerá por ele ter gerado a situação. O marido não buscará o divórcio ou a
traição, mas manter-se-á firme na sua prova.
“268 - Até que chegue ao estado de pureza perfeita,
tem o espírito que passar constantemente por provas? Sim, mas que não são como
o entendeis, pois que só considerais provas as tribulações materiais. Ora,
havendo-se elevado a um certo grau, o espírito, embora não seja ainda perfeito,
já não tem que sofrer provas. Continua, porém, sujeito a deveres nada penosos,
cuja satisfação lhe auxilia o aperfeiçoamento, mesmo que consistam apenas em
auxiliar os outros a se aperfeiçoarem”.
É a partir dessa “Perfeita compreensão de Kardec sobre o
destino” que o Espiritualismo Ecumênico Universal convida a todos os seres
encarnados, principalmente os espíritas, a praticarem uma revolução em suas
vidas.
O inimigo dessa insurreição deve ser nossos padrões de
felicidade e nossos desejos. Convocamos todos os seres a lutarem contra si
mesmos, contra a felicidade dependente do gozo material. Não estamos falando em
procurar sofrimentos, mas em não mais encontrá-los.
Para alcançar a evolução espiritual o ser humano não precisa
abrir mão de sua casa, mas viver feliz dentro dela, mesmo que não satisfaça
todos os seus desejos. Os bens de cada um foram dados por Deus como
instrumentos necessários para as provas.
Assim, aquele que abre mão de uma casa para morar na rua
está abrindo mão de um instrumento necessário à sua evolução. Mas aqueles que
critica a sua casa por ela não lhe satisfazer os desejos, também está deixando
de aproveitá-la como instrumento de sua elevação.
Se por um lado a revolução proposta pelo Espiritualismo
Ecumênico Universal lhe leva à provação de suportar situações sem resmungar
(sofrer), ela também lhe garante que não haverá acréscimo nas provas que cada
um pediu para fazer.
Foi a essa batalha que Jesus se referiu ao dizer que não
tinha vindo para trazer a paz, mas a espada. Esse instrumento é o amor
exemplificado pelo Mestre que deve ser utilizado não para ferir o próximo com
julgamentos, mas para exterminar os desejos e vontades individualistas.
Essa mesma revolução foi pedida pelo Espírito da Verdade a
Kardec:
“260 a – Assim, se não houvesse na Terra gente de maus
costumes, o espírito não encontraria aí meio apropriado ao sofrimento de certas
provas? E seria isso de lastimar-se? É o que ocorre nos mundos superiores, onde
o mal não penetra. Eis porque, nesses mundos, só há espíritos bons. Fazei que
em breve o mesmo se dê na Terra”.
No tocante ao próximo, a revolução proposta pelo
Espiritualismo Ecumênico Universal trará o fim de todas as situações negativas
existentes hoje no planeta. Se os seres humanos alternarem a compreensão sobre
os acontecimentos da vida, não mais necessitarão fazer provas e, portanto, as
situações não mais serão criadas por Deus.
Com o fim das provas acabará a fome, a miséria e as doenças.
Estas situações são criações de Deus para aqueles espíritos que pedem
determinadas provas. Elas jamais poderão ser extintas com ações individuais ou
governamentais, pois todos vivem sob as ordens do Pai. Assim, essas ações são
geradas por Deus apenas para aqueles que merecem recebe-las. Os que dependerem
delas, as receberão.
Não estamos falando contra ações de caridade, mas apenas
mostrando o remédio que pode cortar o mal pela raiz e não apenas amenizar os
efeitos da doença. Esta foi à mesma conclusão que chegou o apóstolo Paulo
durante a missão de sua existência carnal.
“Não é justo esquecer os grandes serviços da igreja de
Jerusalém aos pobres e necessitados e creio mesmo que a assistência piedosa dos
seus trabalhos tem sido, muitas vezes, sua tábua de salvação. Existem porém
outros setores da atividade, outros horizontes essenciais. Poderemos atender a
muitos doentes, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes, mas sempre
houve e haverá corpos enfermos e cansados na terra. Na tarefa cristã,
semelhante esforço não poderá ser esquecido, mas a iluminação do espírito deve
estar em primeiro lugar. Se o homem trouxesse o Cristo no íntimo, o quadro de
necessidades seria completamente modificado. A compreensão do Evangelho e da
exemplificação do Mestre renovaria as noções de dor e sofrimento. O necessitado
encontraria recursos no próprio esforço, o doente sentiria, na enfermidade mais
longa, um escoadouro das imperfeições; ninguém seria mendigo, porque todos
teriam luz cristã para auxílio mútuo e, por fim, os obstáculos da vida seriam
amados como corrigendas benditas de Pai amoroso a filhos inquietos”.
Como lema dessa revolução, propomos frase de Emmanuel neste
mesmo livro:
“Irmãos, acaso quereis o Cristo sem testemunhos?”