Ficou claro que vocês nasceram para amar a Deus acima todas
as coisas e ao próximo como a si mesmo? Conseguiram se conscientizar disso? Compreenderam
que não há mais nada a ser feito nessa?
Participante: sim ...
Muito bom. Agora, o que vão fazer com essa informação?
Participante: praticar.
O que é praticar o amor a Deus e ao próximo? Como é que se
pratica? Pergunto isso porque se não colocar em prática, não adianta nada.
Participante: dever de casa?
É exercício de casa sim. Vocês vão ter que fazer o dever de
casa se almejarem alguma coisa, no sentido espiritual, nessa vida.
Participante: colocar em prática em todas as relações do
nosso convívio, é isso?
Não. A prática desse ensinamentos não envolve a sua relação
com o próximo. Ela precisa ser realizada em uma única relação: você com você.
Os outros não interessam nesse exercício da prática.
A prática do amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo é feita de você com você. Não interessa o que faça para os
outros. O que interessa é como convive com você mesmo.
Participante: sim, mas eu quis dizer que nós nos
relacionamos, que temos várias relações, e nelas tenho que ter o pensamento que
o senhor falou.
Por favor, me diga duas pessoas com as quais você tem
relacionamento.
Participante: minha mãe, meu namorado ...
Você tem relação com seu namorado e com sua mãe. Me diga: quem
é seu namorado?
Participante: se bobear, nem ele sabe.
Se fizer essa mesma pergunta a ele, com certeza vai
descobrir que não o conhece. Digo isso porque irá receber uma descrição
diferente da que você fez. Mais: perguntando para uma terceira pessoa, terá outra
diferente. E assim sucessivamente: a cada pessoa que você pedir uma opinião
sobre quem é o seu namorado, ouvirá uma resposta diferente.
A partir dessa constatação, pergunto: quem é ele? Será que é
aquilo que ele acha sobre si mesmo ou o que os outros pensam dele? Essa é uma
questão interessante de se pensar, não?
A resposta à pergunta que fiz é: ele é quem você achar que é.
Ele não existe como algo pronto e acabado, único. Ele é aquele que cada um diz
que é. Cada ser que o conhece tem um ele diferente dentro de si mesmo.
Sendo assim, posso dizer que você tem um ele dentro de si.
Mais: é com esse ele que se relacionam e não com a personalidade que imagina
existir externamente. Você não convive com ninguém que esteja fora. Todos com
quem se relaciona estão dentro de você mesmo.
Por isso disse que a prática dos ensinamentos precisa ser
alcançada apenas no relacionamento com você mesmo. Mesmo que imagine estar
convivendo com alguém interno, é preciso que se concentre com o interno, com a
ideia que faz do próximo.
Você não tem uma amiga, não namora com ninguém, não tem
relacionamentos familiares: tudo isso existe dentro de você mesmo. Essa é uma
coisa que quando falamos em prática do amor temos que ter muita consciência.
Certamente vocês já ouviram pessoas falarem que amam muito
outro ser, mas que apesar disso colocam ressalvas à forma de ser do amado. Dizem
que ele deveria se portar de outro jeito, que deveria agir diferente, que não
deveria falar tanto palavrão, que deveria ser mais carinhoso, arrumado,
organizado, etc. Quem tem essas ideias não ama aquele por quem diz que nutre o
sentimento, mas sim outra pessoa, pois aquela não é dessa forma.
Estas críticas internas é que geram a personalidade do outro
com o qual você convive. O seu namorado é bagunceiro, desarrumado, fala palavrão.
Você o ama? Tem que amá-lo desse jeito e não querer construir alguém que seja
diferente do que ele é.
Por isso, para realmente amar, é preciso que esteja atenta a
essas descrições internas e silenciá-las. Só assim estará amando realmente a
ele. Essa é a prática que estamos falando.
Amar o próximo é buscar a convivência com aqueles que existem
dentro de si sem cobrar deles qualquer mudança. É estar atento ao que a sua
mente cria sobre os outros e apesar destas opiniões, respeitar o direito do
outro ser, estar e fazer o que quiser.
Só que vocês dizem que amam, mas fazem exatamente o contrário
disso. Querem que todo mundo mude para o que querem que ele seja. Como já foi
dito hoje, amo minha irmã, mas ela precisa ser diferente do que é. É assim que
convivem com a mãe, o namorado, o vizinho. O mundo inteiro tem que se mudar.
Sobre a questão do relacionamento com os outros, defino
muito o ser humano com uma história. Uma mulher que foi com o marido assistir um
desfile de tropas. Na frente do casal um monte de saldado marchando. Aí a
mulher diz: “marido, olha o nosso filho
lá”. O marido pergunta: “qual”? A
mãe humana diz “aquele que é o único que
está com o passo certo”.
Essa é a forma como vocês, humanos, convivem com os outros:
todos estão errados, só vocês estão certos.
A prática do amar a Deus acima todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo se dá vivenciando o seu contato consigo mesmo, com o outro que
está dentro de você e não com quem está fora. Para realizar esse trabalho é
preciso ter atenção plena em você mesmo. Sem isso não se alcança a compreensão correta
sobre a realidade e se vive uma ilusão.
No definição que fiz do ser humano, como seria a prática do
amor? Quando a mente desse a ideia de que o filho daquela mulher era o único de
passo certo, ela precisaria compreender que não existe certo e errado, mas que
todos têm o direito de andar do jeito que quiserem.
A prática da prática da prática é isso. Ao invés de você
viver observando, xingando, analisando os outros, o que eles fazem, você precisa
estar atento ao que a sua mente está criando. Ao observar essa a criação dizer
a si mesmo: “o que a minha mente está
criando não é verdade, não é realidade. Trata-se apenas de uma ideia que ela gerou”.
Trata-se de apenas retirar a força de real do que ela diz e
não de mudar o que é pensado. De nada adianta dizer que a mente está errada no
que pensa, pois com isso não a estará amando e Cristo disse que devemos agir
assim com todos, inclusive com o ego.
Não existe certo ou errado: tudo é apenas uma criação da
mente. Ou seja, é apenas o texto da sua prova.